segunda-feira, 21 de novembro de 2011

ENTREVISTA A JORGE BRAZ - SELECCIONADOR NACIONAL


NOME: Jorge Braz
ANOS COMO TREINADOR: 15
CLUBE ACTUAL: Selecção Nacional
IDADE: 39


Em primeiro lugar quero agradecer a disponibilidade do Professor ao fazer esta entrevista. Pelas vezes que entrei em contacto sempre se dispôs a ajudar e acima de tudo, na divulgação e defesa do futsal. O meu muito obrigado.



Luis Barradas – Professor, como analisa (sinteticamente) o estado do Futsal nacional?

Jorge Braz – O Futsal actual atravessa alguns problemas dentro da conjectura nacional. Apesar disso, surgem cada vez mais projectos organizados e com sustentabilidade.

Luis Barradas – A realidade do Futsal, acaba por ser o reflexo do país (crise), mas não será também uma má estruturação dos projectos dos clubes?

Jorge Braz – Ambas, dado que muitos dos apoios anteriormente normais, deixaram de o ser, e alguns clubes tiveram dificuldades em adaptar-se ao novo enquadramento desportivo nacional, e também regional.

Luis Barradas – A principal competição do país, tem sido uma luta a dois, e este ano parece ser maior essa diferença, porque o Belenenses arrancou tarde e com uma equipa completamente reformulada. Não é pouco para uma competição, que se quer competitiva?

Jorge Braz – Para além do Belenenses, outros clubes com tradição e organização/estrutura no Futsal desistiram, resumindo-se, neste momento o Benfica e o Sporting a clubes com estruturas profissionais. No entanto, outros clubes com organizações e projectos sustentados, têm vindo a revelar-se importantes no panorama nacional e serão importantes no futuro desenvolvimento da modalidade.

Luis Barradas – Há muito que se fala da entrada do Futebol Clube do Porto na modalidade, não seria mais um ingrediente para o crescimento da modalidade e em especial da competição profissional? Traria maior visibilidade e atrás disso novos sponsors?

Jorge Braz – No nosso país vive-se muito o clubismo, pelo que a entrada de um clube como o Futebol Clube do Porto, traria sem dúvida, uma maior visibilidade às competições nacionais, e consequentemente sponsorização.

Luis Barradas – Uma Liga de Futsal, a exemplo do que sucede com o Futebol de 11, não seria mais proveitoso para que existisse uma maior defesa dos interesses do futsal?

Jorge Braz – O importante é estruturar e organizar a modalidade, reforçar o potencial evidente que a mesma revela. A forma, apenas terá que sustentar e consolidar esta preocupação. Existem muitas formas de atingir objectivos semelhantes.

Luis Barradas – É do conhecimento geral que o Seleccionador Nacional, visualiza muitos jogos das competições nacionais. Vislumbra um futuro risonho para o futsal nacional? Existem novos atletas que possam assegurar um futuro capaz de igualar a actual geração e anterior a esta?

Jorge Braz – Existem muitos jovens com imenso valor, sendo necessário enquadrar os melhores, proporcionar-lhes contactos competitivos exigentes. Neste momento poucas equipas juniores treinam mais do que duas vezes por semana, e a maioria das vezes em condições precárias. A formação será o futuro da modalidade! Sendo assim, torna-se importante dar qualidade, para além da necessária quantidade, aos jovens praticantes

Luis Barradas – Entrando no contexto da Selecção Nacional, temos o Europeu à porta (UEFA Futsal EURO 2012 vai decorrer entre 31 de Janeiro e 11 de Fevereiro, na Croácia), que podemos esperar desta Selecção, tendo em conta que os resultados têm sido extremamente positivos (jogos de preparação) e que em 2010, fomos Vice-Campeões Europeus (vencedora a Espanha)?

Jorge Braz – Os jogos de preparação servem para isso mesmo, para nos prepararmos. A preparação tem sido positiva, agora teremos que aplicar conteúdos, consolidando os mesmos e evoluindo cada vez mais. O que podem esperar é uma equipa organizada e acima de tudo ambiciosa, querendo sempre mais, e procurando sempre o principal objectivo de qualquer jogo, ganhar.

Luis Barradas – Que nos falta para ganharmos uma grande competição?

Jorge Braz – Temos que ver o que necessitamos de fazer quando vamos para uma competição, como nos preparamos, o nível de organização e ambição que teremos que apresentar. Temos algumas concentrações e unidades de treino para potenciar e elevar a nossa organização, pelo que essa será a nossa preocupação. Vencer competições é algo posterior, só no final de muito esforço qualitativo, é que isso pode acontecer. O vencer é a meta, mas antes, vem o processo que origina qualidade, não podemos antecipar erradamente as coisas.

Luis Barradas – Portugal tem neste momento o melhor jogador do mundo (Ricardinho – CSKA Moscovo), o que por si só não trás títulos, mas acresce responsabilidades, acredita que esta é uma motivação extra para o grupo de trabalho?

Jorge Braz – Para ganhar algo, teremos que ter a melhor SELECÇÃO/EQUIPA da Europa ou do mundo, e não apenas um jogador. E terá que ser naquele momento, naquela competição. Agora claro está, que ter o melhor e alguns dos melhores ajuda e de que maneira. Essa foi uma distinção individual merecida e demasiado evidente, já poderia ter surgido antes!

Luis Barradas – Ao longo dos anos e acredito que sempre será assim (em todas as modalidades), os seleccionadores nacionais queixam-se do pouco tempo que têm para trabalhar com os atletas? Será que o trabalho não seria facilitado se existisse um trabalho de base, começando pelas Selecções mais jovens, por exemplo – Juvenis, Juniores e sub-21 – os atletas iriam recebendo a cultura de Selecção e os padrões de jogo / as dinâmicas / etc… que cada Seleccionador solicitasse, e assim encontravam etapas que são importantes para a evolução da modalidade e neste caso específico da Selecção Nacional?

Jorge Braz – Sem dúvida. Tal como referi anteriormente, enquadrar alguns dos melhores atletas jovens em ambientes competitivos exigentes, ajudaria imenso. Agora mais importante que lamentações é darmos qualidade e adaptarmo-nos neste enquadramento. Quem se queixa constantemente, tem dificuldades em provocar evolução. Queremos sempre mais, mas temos que melhorar todos os dias, mesmo com reduzidas unidades de treino.

Luis Barradas – A estrutura organizativa das competições não estará também ultrapassada, ao não existir uma competição nacional, para por exemplo o escalão de juniores? Será que as Taças Nacionais de Juvenis e Juniores são suficientes para o próprio Seleccionador Nacional ter uma noção exacta da real valia dos novos atletas, que existem a competir por este país fora?

Jorge Braz – Melhorar a competição entre eles é importante, o futuro julgo que passará por aí. A consequência dessa maior exigência competitiva terá que ser acompanhada pela elevação e melhoria dos processos de preparação. Aparecerem competições nacionais e continuar a treinar pouco e em fracas condições, pouco irá melhorar.

Luis Barradas – Falo dos escalões de formação, mas aqui também posso dar como exemplo, o que eu chamo de “parente pobre” do futsal, os femininos. Acredito que poderia crescer não só em quantidade como em qualidade, existisse vontade de quem decide. Que futuro vê o Prof. para o futsal feminino?

Jorge Braz – Em primeiro lugar a estrutura das competições femininas é idêntica aos escalões de formação, e como referi anteriormente, tal como os escalões de formação, o feminino deverá ter enquadramentos competitivos mais exigentes. Reforço esta opinião, pelo potencial que o Futsal feminino tem. Temos atletas de muita qualidade, das melhores do mundo, elas já o provaram. Por isso, tenho dificuldades com conceitos de “parente pobre”. Temos que saber enquadrar os problemas e procurar soluções. Muitas vezes a etiologia de alguns cenários menos positivos, não é por ser feminino.
 
Luis Barradas – O Inter-Associações (Selecções Regionais), parecem inquinadas, que futuro prevê para esta competição, parece-me mais uma questão política do que decisão desportiva, que opinião tem sobre esta situação que se vive actualmente?

Jorge Braz – Os Torneios Inter-Associações têm uma importância elevadíssima no desenvolvimento da modalidade. Lamento profundamente a suspensão, dado que os verdadeiros prejudicados foram os e as atletas.

Luis Barradas – Não quero fazer comparações, porque acredito que o futsal tem condições para ser auto-suficiente, mas se existe crise, dificuldades financeiras no país, porque só as competições das selecções regionais (distritais) de futsal foram afectadas, porque no futebol de 11, continuam a existir as diversas selecções. Sente junto da FPF também esta diferença de tratamento que a grande maioria dos clubes distritais falam?

Jorge Braz – Não, foram suspensos vários Torneios Inter-Associações, também de futebol. Mais uma vez, não enquadramos a origem do problema e o porquê de várias estruturas desportivas terem decidido a não realização destas competições.
Volto a destacar, a necessidade destes Torneios e lamentar a não realização do ponto de vista desportivo.

Luis Barradas – Que trabalho faz a FPF na divulgação do futsal, junto por exemplo das escolas?

Jorge Braz – A Selecção tem sempre disponibilidade total na divulgação e promoção do Futsal. Temos realizado várias acções, durante as nossas concentrações de promoção junto dos mais jovens.

Luis Barradas – Noutros países o futsal é autónomo das Federações de Futebol, acredita que seria um caminho para o desenvolvimento da modalidade?

Jorge Braz – O enquadramento do Futsal é feito pela FIFA, UEFA e Federações de cada país, pelo que o conceito de autonomia, se o consideram importante, terá que ser dentro deste enquadramento.

Luis Barradas – Falando do Futsal Distrital, e em particular do Futsal Algarvio, que conhece da nossa realidade?

Jorge Braz – Tem vindo a diminuir o número de equipas, no entanto, têm várias equipas nos nacionais, com organização e reveladoras de qualidade. Tem todos os escalões jovens, e por exemplo, distrital de juniores femininos, o que é extremamente importante. Existe gente interessada e com competência no Algarve, tal como em termos nacionais é necessário estruturar e organizar essas competências que existem.

Luis Barradas – O Futsal Algarvio já deu 2 internacionais portugueses (Cary e Paulinho), a seu ver existem jogadores referenciados com capacidades de serem chamados aos trabalhos da selecção nacional? A meu ver até aqui neste ponto existe um entrave para que o Seleccionador tenha um conhecimento maior, o não existirem selecções regionais?

Jorge Braz – Os Torneios Inter-Associações têm como objectivo central a observação. As Associações de Futebol são uma ajuda importantíssima no trabalho que realizam com as Selecções. Ao longo dos anos, fizeram um trabalho muito bom. Neste momento, terá que ser a equipa técnica nacional, a coordenar toda a observação, nas várias competições que existem.
Neste caso, existem vários jogadores referenciados, dado o acompanhamento que fazemos de todas as competições, desde os distritais de escalões de formação e feminino, até aos nacionais, 3ª, 2ª e claro está 1ª divisão. Relembro as prestações do GEJUPCE e do Padernense nas Taças Nacionais. É normal que façamos esse acompanhamento. Já na presente época várias equipas algarvias foram observadas e existem jogadores e jogadoras de qualidade.

Luis Barradas – No ponto de vista do Seleccionador Nacional, como analisa a qualidade das equipas algarvias, que participam nos nacionais?

Jorge Braz – Já referi anteriormente, a sustentação de algumas nas competições nacionais, revelam que no Algarve também existe qualidade e organização.

Luis Barradas – Para terminar gostaria de deixar uma mensagem aos adeptos, atletas e treinadores Algarvios.

Jorge Braz – Quem pratica e desenvolve o Futsal são os clubes, são a base e as peças mais importantes de toda a estrutura. O futuro do Futsal passa pela sustentabilidade e estruturação das bases. Mais que uma mensagem de incentivo, é realçar o trabalho de qualidade que muitos clubes algarvios desenvolvem, dando claros exemplos da necessidade e merecimento de serem apoiados.
Para estas bases é que tudo tem que ser feito. É onde se joga FUTSAL!!!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

ENTREVISTA AO PRESIDENTE DA AF ALGARVE



NOME: Carlos Jorge Alves Caetano
ANOS COMO PRESIDENTE DA AFA: 4
IDADE:  38


Agradeço ao Dr. Alves Caetano a pronta resposta ao convite para esta entrevista, numa fase difícil do país e como não podia deixar de ser no Futsal Algarvio.
Uma palavra ainda para o Dr. Hélder Brito (Secretário Permanente da AFA) que foi o elo de ligação para que a entrevista fosse possível.
Como várias vezes já escrevi, os clubes muitas vezes queixam-se da AFA, mas esquecem-se que a AFA são os clubes, são estes que em sede própria podem decidir o futuro da modalidade e o que acontece na maioria das vezes é que a sua ausência e a sua irresponsabilidade em se excluírem de estar presentes faz com que o futsal esteja no estado em que se encontra.



Luis Barradas – Sr. Presidente, como responsável máximo da AFA, que análise faz do estado actual do Futsal no Algarve?

DR. Alves Caetano – Importa, num quadro de reconhecidas dificuldades, que no caso da nossa região são ainda mais evidentes por estarmos longe dos grandes centros, com o acréscimo de custos daí resultantes no capítulo das deslocações para os clubes participantes nas competições nacionais, realçar os resultados muito positivos alcançados ao longo das últimas épocas, com prestigiantes desempenhos não apenas nas provas nacionais de seniores masculinos mas também em seniores femininos e nas taças nacionais dos escalões de formação. Falando dos mais novos, um dado que me parece relevante, e traduz o crescimento da modalidade, é o aumento sustentado do número de praticantes ao longo das últimas épocas, resultante, quase em exclusivo, da evolução registada nos escalões de formação.
  
LB – Os Responsáveis / Dirigentes dos clubes são críticos com a AFA, pelo apoio que a mesma dá ao futsal, no seu entender o Futsal está mesmo em segundo plano?

DR. AC – Não distinguimos os clubes por praticarem futebol ou futsal e casos há de colectividades que se dedicam às duas modalidades. A AF Algarve tem vindo a acompanhar o crescimento do futsal e a procurar, aos mais diversos níveis, e dentro das nossas possibilidades, respostas para as exigências que se colocam. Ainda recentemente foram levadas a Assembleia Geral várias propostas de largo alcance, a começar pela alteração dos próprios estatutos da AFA, reconhecendo o peso crescente do futsal no seio associativo.

LB – Muitos acreditam que se o futsal fosse autónomo ganharia mais, do que estando dependente do mesmo organismo que gere o futebol de 11. Será possível isso vir a acontecer?

DR. AC – Essa circunstância é nacional.
Como se sabe, e depois de alguns anos de anarquia, coexistindo várias organizações a nível internacional e também nacional e regional, o futsal foi integrado no seio da FIFA (e, por força disso, da UEFA, da FPF e da AFA) e não me parece boa solução iniciarmos um processo que possa traduzir-se numa nova desfragmentação da modalidade, pois, na minha perspectiva, teria sempre mais consequências negativas que positivas. Mas, acima dessa questão, o que considero mais importante é o empenho das pessoas ligadas à modalidade, incluindo, naturalmente, os dirigentes da AF Algarve, no sentido de, por força de um trabalho conjunto, fazermos crescer o futsal e torná-lo não apenas numa realidade mais feliz dentro das fronteiras do Algarve mas também cada vez mais competitivo nas diversas provas de âmbito nacional.

LB – Na conjuntura actual, é fácil todos dizermos que não se pode fazer mais, mas no entanto acredito que todos podemos na realidade fazer algo mais. Os campeonatos têm vindo gradualmente a reduzir o que coloca em causa o futuro da modalidade. Da parte da AFA o que podemos esperar para contrariar este decrescimento de clubes participantes?

DR. AC – Regista-se uma redução do número de equipas em competição nos campeonatos seniores mas há um aumento sustentado, nas últimas épocas, nas provas dos escalões de formação e isso significa que o futuro está assegurado através de uma base cada vez mais alargada. De qualquer forma, temos vindo a tomar medidas no sentido de diminuir o esforço a que os clubes estão sujeitos para participarem em competições oficiais. Muito recentemente enviámos a todas as colectividades um pedido para que nos remetessem sugestões visando a redução de custos e dos 93 filiados apenas três responderam, dois dos quais praticam futebol e futsal.

LB – Muitos clubes substituem o papel do estado, ao manterem em actividade centenas de jovens. Muitos desses clubes, os orçamentos estão a sua maioria dependentes de subsídios das Câmaras Municipais, as quais neste momento cortaram quase por inteiro esses apoios. O que gostava de saber é onde a AFA pode ajudar em termos financeiros e vou especificar. Os clubes queixam-se muitas vezes que os serviços da AFA são dispendiosos (por exemplo: cartões de atletas, vinhetas, inscrições, renovações, etc), mais os valores da arbitragem, existe a possibilidade de a AFA rever valores?

DR. AC – Os custos apontados representam a quase totalidade da participação dos clubes no orçamento da AF Algarve. As inúmeras competições que em cada época se disputam na nossa região obrigam à existência de uma estrutura organizativa, com funcionários remunerados. Não existindo uma participação directa dos clubes no orçamento da AF Algarve, são estes custos que o alimentam, em boa parte. Os clubes assumem um relevante papel na sociedade, prestando serviços de inegável alcance, ao oferecerem a possibilidade da prática desportiva a milhares de jovens, desviando-os de outros caminhos, e essa tarefa deverá merecer a ajuda e o apoio dos poderes públicos, até por se tratar de algo que, em primeira instância, e conforme deriva da nossa Constituição, compete ao Estado. Há um aspecto que justifica uma chamada de atenção, o progressivo distanciamento entre as pessoas que fazem parte de cada comunidade e os clubes: vivemos tempos difíceis mas tem de estar presente uma consciência social e cada um de nós não se pode alhear da importância da actividade desportiva como o garante de uma sociedade mais saudável e melhor formada. É necessário que os clubes saibam conseguir unir em seu torno a comunidade em que se inserem e, por força desse reconhecimento, garantir da população local os apoios para a prática desportiva.


LB – As selecções do Algarve são outro tema que se ouve muitas vezes, em que existe um tratamento desigual. Porque no futebol de 11, existem 3 ou 4 selecções (sub-13, sub-14 e sub-18) e no Futsal existia a sub-21 e mesmo essa acabou por ser extinta ou “adormecida”. Como estão as selecções? É um projecto que acabou ou terá futuro?

DR. AC – Curiosamente, temos constatado a seguinte situação: alguns clubes queixam-se de não dispormos de mais selecções mas quando falamos com os dirigentes e lhes apresentamos os custos médios de cada participação num torneio dizem-nos que é melhor não criarmos mais selecções... É que todas essas despesas têm de ser cobertas com receitas e serão os clubes, ainda que de forma indirecta, a pagá-las. Com o quadro de crise, alguns apoios e subsídios que davam entrada nos cofres da AF Algarve deixaram de nos chegar e, por força disso, não há grande margem para nos envolvermos em projectos que se traduzam num acréscimo de despesas. Estaremos representados nos torneios nacionais de selecções distritais, em futebol e em futsal, de acordo com o que é definido em cada época com o nosso departamento técnico.

LB – O Departamento Técnico da AFA é outro assunto a que o Futsal Algarvio regularmente fala, pelo seu distanciamento e talvez por um passado recente ter sido tão activo, e aqui tenho uma palavra de apreço pelo excelente trabalho efectuado pelo Prof. Pedro Moreira e o Sr. Nelson Guerreiro, que em muitos anos que estou ligado ao futsal nunca tinha sentido tanto pela modalidade. O que se sente para o exterior é que o futsal neste momento caiu no rotundo esquecimento.
Acções de formação para técnicos ou mesmo para directores, não seria uma vertente deste departamento que deveria ser desenvolvido?

DR. AC – Como é do conhecimento geral, o actual departamento técnico tem dado continuidade ao trabalho do anterior, porventura com algumas limitações, decorrentes da situação de crise, que obrigou a alguns ajustamentos, visando a redução de custos, de forma a contermos as despesas dentro das receitas disponíveis. Os cursos de treinadores estão suspensos a nível nacional e seguramente serão apenas os futuros responsáveis da FPF a tomar medidas sobre os procedimentos a tomar no futuro em relação a essa matéria. A formação de dirigentes é um assunto que se encontra em estudo.

LB – A organização dos campeonatos está limitado ao número de inscrições a cada início de época, mas penso que a AFA podia reestruturar as competições, principalmente os mais jovens que no futuro irão ser o suporte da modalidade. Por exemplo nos escalões de Benjamins e Infantis, os clubes querem jogar sempre para ganhar e poucas vezes olham para a vertente formação, que é essencial para a evolução da modalidade, se a AFA colocar regras específicas para estes escalões todos ficariam a ganhar na evolução dos jovens atletas. Por exemplo: Estas duas competições teriam 3 partes e em todos jogos os atletas inscritos nas fichas de jogo teriam que jogar pelo menos uma dessas partes, assim obrigava a que a criança que treina ao longo do ano competisse o que em muitos casos isso não acontece. Não será isto um tema que o departamento técnico da AFA pode desenvolver?

DR. AC – A organização das provas está a cargo da AF Algarve mas as regras das competições estão regulamentarmente estabelecidas e o que se tem notado é alguma resistência quando se procuram introduzir medidas desse tipo. Experiências piloto a esse nível já foram levadas a cabo em diversos torneios, em particular no fim da época, e estamos abertos a alterações, mas para tal tem de haver uma manifestação de vontade clara de uma larga maioria dos clubes. Aparentemente, ideias que podem parecer boas acabam, na prática, por não ter os efeitos desejados. Vejamos, por exemplo, a eventual obrigatoriedade de todos os jovens inscritos para um jogo terem de actuar: se houver uma perspectiva apenas virada para a vertente competitiva e não para a formação, o que vai acontecer é que os atletas com menos qualidades, que eram convocados, deixarão de o ser... Pretendemos que haja uma aposta crescente na formação e sentimos que a generalidade dos clubes trabalha, nesse domínio, de uma forma merecedora de aplauso, procurando criar as melhores condições possíveis para os seus jovens atletas, com treinadores qualificados, uma vincada vertente pedagógica e melhores equipamentos, por exemplo.

LB – Muito recentemente a AFA tentou reunir os clubes por forma a que juntamente com o projecto “O Jogo das Raparigas”, possam decidir pelo futuro da modalidade, e organizarem as competições femininas. O que aconteceu foi mais uma vez uma ausência dos clubes. Que pensa fazer a AFA? Não existe forma de punir os clubes nesta ausência de responsabilidades?

DR. AC – Punir não é o caminho nem está essa possibilidade prevista regulamentarmente para o caso citado. O que tentámos e tentaremos, com essa iniciativa e com outras, é sensibilizar os clubes, dentro do âmbito de actuação da AF Algarve. Compete depois ao clubes tomarem internamente as decisões que entenderem.

LBQue trabalho faz a AFA na divulgação do futsal, junto por exemplo das escolas algarvias?

DR. AC – O número de praticantes de futsal nos escalões de formação tem vindo a crescer de forma sustentada, o que significa que a ligação entre os clubes e o meio escolar das cidades, vilas e aldeias em que estão inseridos tem funcionado, com resultados palpáveis. Esse é um papel que cabe aos clubes. Não faria sentido a AFA desenvolver acções de promoção numa escola de uma terra que não tem clubes a praticar o futsal, devido à impossibilidade de enquadrar depois esses jovens, assim como não faria sentido esse procedimento numa localidade que conta com um clube de futsal e tem os seus canais de recrutamento definidos. A AFA promove o futsal de diversas formas, das quais dou dois exemplos: a realização na região de torneios internacionais e outros acontecimentos promovidos em parceria com a FPF ou a divulgação das actividades da modalidade na nossa revista, que agora está a publicar, uma por uma, as leis do futsal.
  
LBAs equipas algarvias têm tido uma participação de grande qualidade nos campeonatos nacionais e taças nacionais juvenis, juniores e femininos. Que importância tem para a AFA este comportamento do futsal algarvio?

DR. AC – Já tínhamos referido esse aspecto e é algo que constitui um orgulho para a região e um motivo de confiança no futuro. Traduzem a valia do trabalho desenvolvido nos clubes e o investimento por estes feito e são também o espelho do apoio e do incentivo da AFA à modalidade e em particular ao sector da formação.

LBA Selecção Nacional e Sporting têm dois atletas que começaram a sua formação no algarve (Pedro Cary e Paulinho), não podia ser esta uma bandeira para que a nossa região tivesse um outro olhar de quem decide e apostar de forma mais séria no futsal?

DR. AC – É esse o entendimento da AF Algarve e por tal motivo muito recentemente, aquando da disputa da Supertaça, em Portimão, decidimos prestar uma homenagem pública a esses dois atletas algarvios, atendendo ao notável percurso de ambos. A iniciativa estava prevista para o período antes do início do jogo mas, infelizmente, o Sporting entendeu que a necessária concentração dos dois jogadores desaconselhava que a cerimónia tivesse lugar perante todo o público presente, acabando a mesma por decorrer no final da partida, na sala da imprensa, sem o calor humano dos familiares e dos amigos do Pedro Cary e do Paulinho e de todos os adeptos algarvios do futsal. Esse gesto da AFA traduz bem o reconhecimento que temos por ambos e um sinal inequívoco do que representam para o futsal da nossa região, não estando afastada, no futuro, a realização de acções em que esses atletas possam marcar presença.
  
LBQue projectos tem a AFA para o futuro, relacionados com o futsal?

DR. AC – A AFA pertence aos clubes e serão estes, em primeira instância, a dizerem o que desejam e a sugerir-nos soluções e caminhos, sem que isso impeça, naturalmente, que a própria direcção apresente, sempre que achar oportuno, e como temos feito, propostas que julguemos de interesse com vista ao crescimento da modalidade. Importante, para nós, é que, mesmo num quadro de crise, se mantenha a aposta na formação, indicador necessário para perspectivarmos um futuro melhor. Nos últimos anos a AFA desenvolveu diversas acções de formação e pretendemos continuar a dar aos clubes e aos agentes desportivos as “ferramentas” necessárias para desenvolverem um trabalho que corresponda aos anseios dos seus dirigentes e às necessidades das comunidades em que essas agremiações estão inseridas.


Para terminar gostaria de deixar uma mensagem aos adeptos, atletas, treinadores e dirigentes Algarvios.

DR. AC – Deixo uma mensagem de união e de partilha dos verdadeiros valores do desporto. O futsal tem vindo a ganhar um espaço considerável no Algarve e importa que continuemos todos a lutar pelo crescimento da modalidade, dentro de um saudável espírito de competitividade, factor essencial para uma crescente melhoria qualitativa, sem que disso se possam dissociar os sempre necessários princípios do “fair-play”. Saber perder é tão ou mais importante que saber ganhar e é dentro desse saudável espírito que queremos ver cada vez mais gente dentro dos nossos pavilhões, a praticar futsal e a apreciar os espectáculos proporcionados pelas nossas equipas.