NOME: Jorge Braz
ANOS COMO TREINADOR: 15
CLUBE ACTUAL: Selecção Nacional
IDADE: 39
Em primeiro lugar quero agradecer a disponibilidade do Professor ao fazer esta entrevista. Pelas vezes que entrei em contacto sempre se dispôs a ajudar e acima de tudo, na divulgação e defesa do futsal. O meu muito obrigado.
Luis Barradas – Professor, como analisa (sinteticamente) o estado do Futsal nacional?
Jorge Braz – O Futsal actual atravessa alguns problemas dentro da conjectura nacional. Apesar disso, surgem cada vez mais projectos organizados e com sustentabilidade.
Luis Barradas – A realidade do Futsal, acaba por ser o reflexo do país (crise), mas não será também uma má estruturação dos projectos dos clubes?
Jorge Braz – Ambas, dado que muitos dos apoios anteriormente normais, deixaram de o ser, e alguns clubes tiveram dificuldades em adaptar-se ao novo enquadramento desportivo nacional, e também regional.
Luis Barradas – A principal competição do país, tem sido uma luta a dois, e este ano parece ser maior essa diferença, porque o Belenenses arrancou tarde e com uma equipa completamente reformulada. Não é pouco para uma competição, que se quer competitiva?
Jorge Braz – Para além do Belenenses, outros clubes com tradição e organização/estrutura no Futsal desistiram, resumindo-se, neste momento o Benfica e o Sporting a clubes com estruturas profissionais. No entanto, outros clubes com organizações e projectos sustentados, têm vindo a revelar-se importantes no panorama nacional e serão importantes no futuro desenvolvimento da modalidade.
Luis Barradas – Há muito que se fala da entrada do Futebol Clube do Porto na modalidade, não seria mais um ingrediente para o crescimento da modalidade e em especial da competição profissional? Traria maior visibilidade e atrás disso novos sponsors?
Jorge Braz – No nosso país vive-se muito o clubismo, pelo que a entrada de um clube como o Futebol Clube do Porto, traria sem dúvida, uma maior visibilidade às competições nacionais, e consequentemente sponsorização.
Luis Barradas – Uma Liga de Futsal, a exemplo do que sucede com o Futebol de 11, não seria mais proveitoso para que existisse uma maior defesa dos interesses do futsal?
Jorge Braz – O importante é estruturar e organizar a modalidade, reforçar o potencial evidente que a mesma revela. A forma, apenas terá que sustentar e consolidar esta preocupação. Existem muitas formas de atingir objectivos semelhantes.
Luis Barradas – É do conhecimento geral que o Seleccionador Nacional, visualiza muitos jogos das competições nacionais. Vislumbra um futuro risonho para o futsal nacional? Existem novos atletas que possam assegurar um futuro capaz de igualar a actual geração e anterior a esta?
Jorge Braz – Existem muitos jovens com imenso valor, sendo necessário enquadrar os melhores, proporcionar-lhes contactos competitivos exigentes. Neste momento poucas equipas juniores treinam mais do que duas vezes por semana, e a maioria das vezes em condições precárias. A formação será o futuro da modalidade! Sendo assim, torna-se importante dar qualidade, para além da necessária quantidade, aos jovens praticantes
Luis Barradas – Entrando no contexto da Selecção Nacional, temos o Europeu à porta (UEFA Futsal EURO 2012 vai decorrer entre 31 de Janeiro e 11 de Fevereiro, na Croácia), que podemos esperar desta Selecção, tendo em conta que os resultados têm sido extremamente positivos (jogos de preparação) e que em 2010, fomos Vice-Campeões Europeus (vencedora a Espanha)?
Jorge Braz – Os jogos de preparação servem para isso mesmo, para nos prepararmos. A preparação tem sido positiva, agora teremos que aplicar conteúdos, consolidando os mesmos e evoluindo cada vez mais. O que podem esperar é uma equipa organizada e acima de tudo ambiciosa, querendo sempre mais, e procurando sempre o principal objectivo de qualquer jogo, ganhar.
Luis Barradas – Que nos falta para ganharmos uma grande competição?
Jorge Braz – Temos que ver o que necessitamos de fazer quando vamos para uma competição, como nos preparamos, o nível de organização e ambição que teremos que apresentar. Temos algumas concentrações e unidades de treino para potenciar e elevar a nossa organização, pelo que essa será a nossa preocupação. Vencer competições é algo posterior, só no final de muito esforço qualitativo, é que isso pode acontecer. O vencer é a meta, mas antes, vem o processo que origina qualidade, não podemos antecipar erradamente as coisas.
Luis Barradas – Portugal tem neste momento o melhor jogador do mundo (Ricardinho – CSKA Moscovo), o que por si só não trás títulos, mas acresce responsabilidades, acredita que esta é uma motivação extra para o grupo de trabalho?
Jorge Braz – Para ganhar algo, teremos que ter a melhor SELECÇÃO/EQUIPA da Europa ou do mundo, e não apenas um jogador. E terá que ser naquele momento, naquela competição. Agora claro está, que ter o melhor e alguns dos melhores ajuda e de que maneira. Essa foi uma distinção individual merecida e demasiado evidente, já poderia ter surgido antes!
Luis Barradas – Ao longo dos anos e acredito que sempre será assim (em todas as modalidades), os seleccionadores nacionais queixam-se do pouco tempo que têm para trabalhar com os atletas? Será que o trabalho não seria facilitado se existisse um trabalho de base, começando pelas Selecções mais jovens, por exemplo – Juvenis, Juniores e sub-21 – os atletas iriam recebendo a cultura de Selecção e os padrões de jogo / as dinâmicas / etc… que cada Seleccionador solicitasse, e assim encontravam etapas que são importantes para a evolução da modalidade e neste caso específico da Selecção Nacional?
Jorge Braz – Sem dúvida. Tal como referi anteriormente, enquadrar alguns dos melhores atletas jovens em ambientes competitivos exigentes, ajudaria imenso. Agora mais importante que lamentações é darmos qualidade e adaptarmo-nos neste enquadramento. Quem se queixa constantemente, tem dificuldades em provocar evolução. Queremos sempre mais, mas temos que melhorar todos os dias, mesmo com reduzidas unidades de treino.
Luis Barradas – A estrutura organizativa das competições não estará também ultrapassada, ao não existir uma competição nacional, para por exemplo o escalão de juniores? Será que as Taças Nacionais de Juvenis e Juniores são suficientes para o próprio Seleccionador Nacional ter uma noção exacta da real valia dos novos atletas, que existem a competir por este país fora?
Jorge Braz – Melhorar a competição entre eles é importante, o futuro julgo que passará por aí. A consequência dessa maior exigência competitiva terá que ser acompanhada pela elevação e melhoria dos processos de preparação. Aparecerem competições nacionais e continuar a treinar pouco e em fracas condições, pouco irá melhorar.
Luis Barradas – Falo dos escalões de formação, mas aqui também posso dar como exemplo, o que eu chamo de “parente pobre” do futsal, os femininos. Acredito que poderia crescer não só em quantidade como em qualidade, existisse vontade de quem decide. Que futuro vê o Prof. para o futsal feminino?
Jorge Braz – Em primeiro lugar a estrutura das competições femininas é idêntica aos escalões de formação, e como referi anteriormente, tal como os escalões de formação, o feminino deverá ter enquadramentos competitivos mais exigentes. Reforço esta opinião, pelo potencial que o Futsal feminino tem. Temos atletas de muita qualidade, das melhores do mundo, elas já o provaram. Por isso, tenho dificuldades com conceitos de “parente pobre”. Temos que saber enquadrar os problemas e procurar soluções. Muitas vezes a etiologia de alguns cenários menos positivos, não é por ser feminino.
Luis Barradas – O Inter-Associações (Selecções Regionais), parecem inquinadas, que futuro prevê para esta competição, parece-me mais uma questão política do que decisão desportiva, que opinião tem sobre esta situação que se vive actualmente?
Jorge Braz – Os Torneios Inter-Associações têm uma importância elevadíssima no desenvolvimento da modalidade. Lamento profundamente a suspensão, dado que os verdadeiros prejudicados foram os e as atletas.
Luis Barradas – Não quero fazer comparações, porque acredito que o futsal tem condições para ser auto-suficiente, mas se existe crise, dificuldades financeiras no país, porque só as competições das selecções regionais (distritais) de futsal foram afectadas, porque no futebol de 11, continuam a existir as diversas selecções. Sente junto da FPF também esta diferença de tratamento que a grande maioria dos clubes distritais falam?
Jorge Braz – Não, foram suspensos vários Torneios Inter-Associações, também de futebol. Mais uma vez, não enquadramos a origem do problema e o porquê de várias estruturas desportivas terem decidido a não realização destas competições.
Volto a destacar, a necessidade destes Torneios e lamentar a não realização do ponto de vista desportivo.
Luis Barradas – Que trabalho faz a FPF na divulgação do futsal, junto por exemplo das escolas?
Jorge Braz – A Selecção tem sempre disponibilidade total na divulgação e promoção do Futsal. Temos realizado várias acções, durante as nossas concentrações de promoção junto dos mais jovens.
Luis Barradas – Noutros países o futsal é autónomo das Federações de Futebol, acredita que seria um caminho para o desenvolvimento da modalidade?
Jorge Braz – O enquadramento do Futsal é feito pela FIFA, UEFA e Federações de cada país, pelo que o conceito de autonomia, se o consideram importante, terá que ser dentro deste enquadramento.
Luis Barradas – Falando do Futsal Distrital, e em particular do Futsal Algarvio, que conhece da nossa realidade?
Jorge Braz – Tem vindo a diminuir o número de equipas, no entanto, têm várias equipas nos nacionais, com organização e reveladoras de qualidade. Tem todos os escalões jovens, e por exemplo, distrital de juniores femininos, o que é extremamente importante. Existe gente interessada e com competência no Algarve, tal como em termos nacionais é necessário estruturar e organizar essas competências que existem.
Luis Barradas – O Futsal Algarvio já deu 2 internacionais portugueses (Cary e Paulinho), a seu ver existem jogadores referenciados com capacidades de serem chamados aos trabalhos da selecção nacional? A meu ver até aqui neste ponto existe um entrave para que o Seleccionador tenha um conhecimento maior, o não existirem selecções regionais?
Jorge Braz – Os Torneios Inter-Associações têm como objectivo central a observação. As Associações de Futebol são uma ajuda importantíssima no trabalho que realizam com as Selecções. Ao longo dos anos, fizeram um trabalho muito bom. Neste momento, terá que ser a equipa técnica nacional, a coordenar toda a observação, nas várias competições que existem.
Neste caso, existem vários jogadores referenciados, dado o acompanhamento que fazemos de todas as competições, desde os distritais de escalões de formação e feminino, até aos nacionais, 3ª, 2ª e claro está 1ª divisão. Relembro as prestações do GEJUPCE e do Padernense nas Taças Nacionais. É normal que façamos esse acompanhamento. Já na presente época várias equipas algarvias foram observadas e existem jogadores e jogadoras de qualidade.
Luis Barradas – No ponto de vista do Seleccionador Nacional, como analisa a qualidade das equipas algarvias, que participam nos nacionais?
Jorge Braz – Já referi anteriormente, a sustentação de algumas nas competições nacionais, revelam que no Algarve também existe qualidade e organização.
Luis Barradas – Para terminar gostaria de deixar uma mensagem aos adeptos, atletas e treinadores Algarvios.
Jorge Braz – Quem pratica e desenvolve o Futsal são os clubes, são a base e as peças mais importantes de toda a estrutura. O futuro do Futsal passa pela sustentabilidade e estruturação das bases. Mais que uma mensagem de incentivo, é realçar o trabalho de qualidade que muitos clubes algarvios desenvolvem, dando claros exemplos da necessidade e merecimento de serem apoiados.
Para estas bases é que tudo tem que ser feito. É onde se joga FUTSAL!!!