quarta-feira, 5 de junho de 2013

JOHN CONTREIRAS - Treinador do Louletano

NOME: John E. Contreiras
CURSO TREINADOR FUTSAL: Nível 1
ANOS COMO TREINADOR: 6 anos (Futsal) 3 anos (futebol)
CLUBES QUE TREINOU: Louletano DC (Futebol e Futsal), C.P Messines
CLUBES COMO ATLETA: Louletano DC, JS Campinense, Madeira FC (Austrália), Casa do Benfica de Sydney (Austrália)
CLUBE ACTUAL: Louletano DC
IDADE: 43 Anos

Numa das equipas mais experientes do Algarve, John Contreiras fez uma época de grande qualidade, chegou às meias-finais da Taça do Algarve, 3º lugar no campeonato da 3ª. Divisão.


Luis Barradas- A equipa do Louletano é reconhecidamente uma das mais experientes e com atletas de grande qualidade, como é trabalhar com estes atletas?

John Contreiras- Boas Luís, em primeiro lugar quero agradecer-te por ser um dos teus eleitos para esta excelente iniciativa, voltando a tua pergunta, trabalhar com este grupo de jogadores é extremamente gratificante em todas as vertentes, é um grupo como dizes e bem muito experiente, e de uma qualidade "invejável".
Este plantel 2012-2013, destaca-se por uma inesgotável capacidade e aptidão para o trabalho e isso sem dúvida que é um desafio exigente para qualquer treinador.
Devo dizer-te que também devo esta época a todos os treinadores que no passado trabalharam e formaram todos eles, pois torna-se mais fácil de assimilar os nossos conceitos quando se conhece bem o jogo e os seus fundamentos.
Se tivemos casos e problemas? Sem dúvida que sim, mas o mais importante foi a capacidade de os resolver no seio do grupo com muita responsabilidade e transparência, desse modo, cada um desses problemas ou casos tornaram-se em alicerces que nos ajudaram a superar todos ou quase todos os desafios.
Os meus Jogadores foram os principais obreiros da excelente época que realizamos.


LB- O Louletano assumiu claramente que o grande objectivo da época era estar entre os 2 primeiros lugares que dariam acesso à 2ª. Divisão Nacional, e ficou a 1 ponto desse objectivo (esteve nesse lugar até à 22ª. jornada) o que falhou/faltou para esse sonho?

JC- A aposta da direcção do clube e o objectivo que me foi pedido era em primeiro lugar, a manutenção da equipa na terceira Divisão Nacional e se possível obter a mesma classificação do ano anterior (quinto lugar), como deves saber houve um corte substancial do orçamento para esta época, logo uma subida nunca esteve equacionada, mas confesso que o objectivo dos primeiros dois lugares foi crescendo ao longo do ano no seio do grupo com toda a legitimidade, mas infelizmente não foi possível.

Gostaria ainda de referir que, foi para nós um orgulho atingir a marca dos 55 pontos, penso que para além da equipa do Fontainhas (agora Albufeira Futsal) há quase 10 anos, esta foi a equipa que mais pontuou em campeonatos nacionais, outro facto importante foi ser a equipa menos batida de todos os campeonatos nacionais, logo a seguir aos profissionais do Sporting e do Benfica, isto passa ao lado de muita gente, mas para mim e para os meus atletas é sem dúvida um motivo de enorme satisfação.

O que faltou...? ...um ponto apenas.
Se me deixassem repetir um ou dois jogos.., garanto que subia fácil, logo só tenho que assumir inteira responsabilidade por não o ter alcançado.

LB- A partir da próxima época os campeonatos nacionais vão ter uma reorganização, com a extinção das 3ªs. Divisões Nacionais o que representa a descida de 11 clubes aos campeonatos distritais no ano seguinte, subindo apenas 3 clubes à 2ª. Divisão Nacional. Com a experiência que tens de Campeonatos Nacionais com que perspectivas vês a próxima época?

JC- Estou muito céptico em relação a reestruturação dos quadros competitivos Luís, temos que ser muito coerentes e realistas nesta análise.
Quantas equipas do Algarve conseguiram os primeiros três lugares nos últimos anos? Todos sabemos a resposta.
Sabemos ainda que os nossos campeões distritais vão e voltam ao invés das equipas de Lisboa que vão e ainda sobem para a segunda divisão logo no primeiro ano de nacional.
Na próxima época vamos ter um autêntico baile da cadeira com oito ou nove favoritos para três lugares, vai ser sem dúvida muito difícil para o Algarve conseguir um bilhete para a segunda divisão nacional, espero no entanto estar enganado.
Se Louletano, Sonâmbulos e Farense conseguirem os três lugares da frente, muito bem, caso contrário podemos assistir à representação do Algarve em campeonatos nacionais resumir-se ao Albufeira Futsal, mas pelos vistos sou dos poucos a ter esta visão.

Nunca senti qualquer falta de competitividade quer na 2ª divisão, quer na terceira, antes pelo contrário.


LB- Para quem gosta de desporto, quando pensa em Loulé é normal que associe o Louletano, mas quando nos deslocamos ao Pavilhão Municipal de Loulé (um pavilhão de grande qualidade) é desolador vermos as bancadas vazias, em tua opinião porquê o divórcio dos “Louletanos” com a sua equipa de futsal?

JC- Ninguém se pode divorciar sem estar casado... Ouve aqui e ali uniões de facto, misturadas com adultério entre outras coisas...
Sabes e falámos nisto à pouco tempo, o quanto me entristece ver pouco mais de 20 pessoas a assistir a um jogo de futsal nacional em Loulé, razão para isso? Na minha opinião as mais variadas, desde o concelho albergar três equipas de futsal (excessivo quanto a mim), em Loulé conselho convive-se muito mal com o sucesso do vizinho e o Louletano futsal tem sido alvo de muitas frustrações desportivas e até mesmo sociais.
Gostaria no entanto de ver mais gente neste pavilhão, independentemente daquilo que motiva essas presenças.
Eu estive cá no ano em que descemos de divisão e em todos os jogos tínhamos muita gente... Na parte final então, já com a corda no pescoço a afluência era maior que nesta época, facilmente retiramos as nossas ilações.
Este ano até às primeiras quatro ou cinco jornadas ainda estava composto (pavilhão), a partir dai ouve muitas desistências.
O gosto pela critica destrutiva camuflada sobeja por estas bandas e não só...
Se o clube errou no passado nesta ou naquela situação... Provavelmente sim, mas quem não o fez? O passado deve ser passado e nunca o presente e muito menos o futuro.
Espero como homem de fé que sou, que essa reconciliação aconteça já no próximo ano, para a boa saúde da modalidade na cidade.


LB- A equipa de futsal do Louletano é hoje um dos nomes fortes do futsal Algarvio em termos de equipas seniores (este ano tiveram 1 equipa de juniores) que importância tem para ti a Formação num clube?

JC- A formação tem extrema importância na sustentabilidade de qualquer projecto desportivo, eu estive na formação do Louletano futsal no ano zero (juniores) e mais tarde consegui formar e iniciar mais um escalão (juvenis) embora não fosse ainda suficiente, o caminho era esse, devo dizer que não foi fácil conseguir os patrocínios necessários para manter os dois escalões, mas conseguimos num esforço conjunto de direcção e treinadores, onde destaco o importante papel do César Coelho e da direcção, quando saí de Loulé...perdi o contacto, mas acredito que também as dificuldades financeiras que os clubes atravessam esteja na origem, do desaparecimento do escalão de juvenis (LDC).
Sobre o futuro devo dizer-te que vamos alterar algumas coisas já a partir da próxima época.


LB- Ao longo de uma época um treinador passa por muitas dificuldades, que balanço fazes desta época e qual o momento mais difícil?

JC- É verdade, muitas mesmo, no meu caso devo dizer que foi a época e o futsal que me ajudaram a ultrapassar todas as dificuldades com que me deparei ao longo do ano (extra futsal).
Os momentos mais difíceis...
Sem dúvida a eliminação na meia-final da Taça do Algarve, O empate com o Miratejo (fora), onde acabamos por perder o segundo lugar e mais grave deixamos de depender de nós, houve a partir desse momento um sentimento de que, por muito que fizéssemos poderia não ser suficiente... e tudo fizemos e não foi.
Para mim e para o grupo cada ponto que perdemos, foi um momento difícil, como vencemos mais vezes que perdemos ou empatamos, logo o balanço é francamente positivo.
No meu caso específico só tenho a agradecer ao meu plantel pela sua boa disposição carregada de “Eufemismos”, ao meu adjunto e ao vice-presidente Dr. Jorge Aleixo, por toda a força anímica que me conferiram para ultrapassar todos esses momentos desportivos e pessoais.


LB- Muitas equipas queixam-se do afastamento das direcções dos clubes e em especial os clubes mais eclécticos como é o caso do Louletano que “alberga” várias modalidades. O futsal do Louletano também sente esse distanciamento, ou existe de alguma forma relação de proximidade? 

JC- Estás a ver se me despedes... alguém te pagou para me fazeres essa pergunta?
Agora a serio... toda a direcção do Louletano teve ao longo da época uma postura motivacional e de valorização para com a equipa de futsal, mas é pouco nós queremos mais, queremos toda a gente que gosta do louletano no pavilhão... porque só todos bem juntos vamos conseguir.


LB- Existem muitos críticos ao estado actual do futsal algarvio, à falta de qualidade das equipas, aos seus sistemas de jogo e sua organização. Que opinião tens sobre esta realidade?

JC- Na minha opinião houve uma evolução qualitativa das equipas algarvias
Nos últimos 5 ou 6 anos, infelizmente a quantidade sofreu um decréscimo.
Críticas sobre sistemas de jogo utilizados pelas equipas...? Quem não faz o fácil nunca chegara ao complexo e devo dizer-te que se há meia dúzia de anos era pouca a informação e a partilha de conteúdos técnico-tácticos (salvo algumas excepções), hoje é precisamente o inverso, a informação áudio visual é tão vasta e diversificada (ainda bem) que pode ser prejudicial para a sanidade mental de qualquer treinador, isto faz-me lembrar quando tinha os meus 13 ou 14 anos e vi o mundial de Espanha 82... só queria fazer golos à Falcão (selecção brasileira de futebol) e acabei com uma rotura de ligamentos.
Não importa a quantidade de sistemas e subsistemas que queremos implementar, se a mensagem não chegar bem clara e definida ao jogador.
Eu não critico modelos de jogo, haja humildade e não falsa modéstia.
Deixo aqui também um apelo a todos os amantes da modalidade, a Associação (AFA) anda a promover jornadas técnicas no sentido de melhorarmos enquanto treinadores (também directores e jogadores), assistam, participem, ponham em causa, questionem, mas não faltem, é desolador numa acção de formação com um prelector mítico do futsal nacional estarem 15 ou 20 pessoas, claro depois a culpa é da Associação (AFA), nossa nunca é...

 
LB- A época terminou há poucos dias, agora é tempo de descanso, mas com um olhar na próxima época. Que mudanças podemos esperar na equipa do Louletano?

JC- Ainda é cedo mas equipa que ganha não se mexe (velho ditado), o Louletano vai com certeza tentar manter “quase” toda a equipa, com mais 3 ou 4 entradas de qualidade já garantidas.
Como te disse no início, é uma equipa de qualidade “”INVEJÁVEL”. Vamos fazer alguns reajustamentos no modelo de jogo para que possamos contar com um pouco mais de sorte.
Enquanto treinador estou sempre a aprender a cada época que passa.


LB- Quais os objectivos do Louletano para a próxima época?

JC- Outra vez a manutenção... Nos nacionais. 


LB- Que mensagem queres deixar aos adeptos do clube?

JC- Prometemos a mesma humildade e capacidade de trabalho, com o vosso apoio seremos mais fortes.


LB- E o treinador John que sonhos tem?

JC- Que deus me ajude a ter força para continuar a treinar.

Obrigado Luís Barradas, pela tua dedicação à causa “Futsal” e em especial da forma isenta como o fazes, quero ainda deixar uma palavra de apreço a todos aqueles que de forma directa ou indirecta contribuíram para o meu trajecto como treinador de futsal, onde quero destacar o Nuno Xabregas, o Luís Conceição e o não menos importante Rosa Coutinho.
Obrigado a todos.


Agradeço uma vez mais a tua disponibilidade.
Luis Coutinho Barradas