terça-feira, 4 de junho de 2013

LUIS CONCEIÇÃO... Seleccionador Algarvio



NOME: Luis Conceição
CURSO TREINADOR FUTSAL: ­­­­­­­­­­­­­­Nível 3
ANOS COMO TREINADOR: 14 anos
CLUBES QUE TREINOU: Inter-Vivos, Sapalense, Louletano
TREINADOR NA AFA – 2002 a 2007 e 2012/13
IDADE: 36 anos


Numa altura em que se fala tanto de crise e dificuldades o qual o Futsal não está excluído, trago à conversa o Prof. Luis Conceição, actual Seleccionador do Algarve. O Técnico é um dos homens do Futsal Algarvio com maior conhecimento da realidade da modalidade na região. 

LUIS BARRADAS- Luis, um treinador vive de resultados e o teu trajecto na modalidade devesse sempre ou na maioria das vezes a classificações e objectivos ganhos, é a realidade… Tu felizmente és um caso de grande qualidade e com resultados positivos, diria de sucesso, mas que decides colocar um ponto final na carreira de treinador de clube (ou um até já) e voltar às Selecções. Porquê esta opção?

LUIS CONCEIÇÃO- Durante vários anos colaborei com as selecções distritais mas também estava ligado ao clube, este ano pela primeira vez o gabinete técnico teve uma pessoa a trabalhar especificamente para o futsal. Acima de tudo continuo a fazer aquilo que gosto e só aceitei este projecto porque as pessoas foram muito claras comigo, com objetivos exequíveis e interessantes, pessoas bastante competentes, sérias e empenhadas em melhorar o futuro da modalidade. 


LB- No ponto de vista do Seleccionador Algarvio, que análise fazes ao momento que o Futsal da nossa região atravessa?

LC- É natural que queiramos sempre mais atletas, mais equipas nos campeonatos, mais competição. O futsal Algarvio esteve uma época positiva, continuamos a ter um representante na 2ª divisão nacional e para já vamos ter 3 equipas na 3ª divisão nacional, o futsal feminino também está de parabéns ao conseguir o apuramento para o campeonato nacional, as nossas equipas das taças nacionais juniores e juvenis fizeram boas campanhas, tivemos atletas convocados para as selecções nacionais e vários atletas referenciados para as diversas selecções nacionais. A nível do futsal distrital os play offs trouxeram mais emoção e melhores jogos, com isso mais espectadores aos pavilhões.

Ao nível de clubes inscritos nos nossos campeonatos estamos praticamente ao mesmo nível de outras associações com a mesma dimensão da nossa, esta crise toca a todos, não é só no Algarve nem no futsal que o decréscimo de equipas se faz sentir.

Em relação aos mais jovens realço a qualidade individual do atleta algarvio, jogadores com muito talento individual, é necessário dar-lhe mais conhecimento do jogo. É urgente os clubes desenvolverem um trabalho na formação com mais rigor e competência, não basta juntar um grupo de miúdos com jeito para o futsal e colocar uma pessoa curiosa a frente da equipa, infelizmente isto é o que acontece na maioria dos clubes. Para terminar gostava de ver mais clubes a desenvolver escolas de futsal com projectos credíveis e competentes.


LB- Este ano a AF Algarve teve em competição 3 selecções, Sénior Femininos, Sub-20 Masculinos e Sub-15 Masculinos nos Torneios Inter-Associações. A prestação das 3 Selecções foi muito positiva. Sei que já a pensar na próxima época foi efectuado um treino com a Selecção de Sub-17, por forma a que sejam desde já aferidos talentos.
Podemos dizer que temos perspectivas de qualidade para o futuro da modalidade?

LC- Com o conhecimento que tenho dos jovens e dos muitos anos que tenho de futsal afirmo sem qualquer problema que a melhor geração de jogadores de futsal do Algarve pode estar na geração dos miúdos nascidos entre 1996 e 1998. Se continuarem a evoluir e forem humildes, vão ser num futuro próximo as referências das nossas principais equipas. Existem 2 ou 3 clubes que têm feito um excelente trabalho nos últimos anos na formação, os clubes que fizeram esse investimento já começam a ter o retorno na sua equipa sénior.


Selecção Sub 15


LB- Para muitos jovens as Selecções Distritais são um objectivo e a Selecção Nacional um Sonho, nesta ultima poucos a poderão atingir, mas o Algarve tem tido nestes últimos anos 2 representantes que começaram a dar os primeiros passos em clubes algarvios (Pedro Cary e Paulinho “Sporting”), mas este ano tivemos mais um representante nos trabalhos da Selecção Nacional, um atleta que foi campeão em todos os escalões de formação (Gejupce) e que está a fazer uma grande época no Albufeira Futsal. O Rui Oliveira é um bom exemplo para os jovens algarvios. Ao verem um colega ir aos trabalhos da Selecção Nacional, faz com que acalentem um sonho. Tu conheces o Rui e trabalhaste com ele na Selecção Sub-20, podemos estar perante um novo atleta algarvio na elite do futsal nacional?

LC- O Rui tem grandes qualidades e com um talento para o futsal enorme, é inteligente joga quase sempre com a razão, destaca-se porque faz tudo com grande velocidade de execução e isso no futsal é determinante para recuperar uma bola, eliminar uma transição, sair no 1*1 e poder fazer golo, etc.
Para além das qualidades como jogador é um miúdo de grande caracter e humildade, absorve a informação muito rapidamente, estas vão ser decisivas para o seu rápido crescimento e afirmação no futsal. A qualidade está lá, agora precisa de oportunidades em clubes de maior dimensão e com um nível de exigência superior para podermos dizer se o Rui pode ou não ser jogador de topo no futsal. Também é importante referir que apresenta lacunas como qualquer atleta ainda por cima na idade dele, mas com certeza que vai ultrapassa-las e tornar-se ainda melhor jogador.


LB- Como Seleccionador Algarvio o visionamento de dezenas de jogos ao longo da época faz com que tenhas um grande conhecimento dos nossos atletas. Existe a possibilidade de serem encontrados novos “Ruis”, tanto ao nível do Futsal Feminino como Masculino?

LC- Existem atletas tanto no feminino como no masculino de grande qualidade e talentosos. Por vezes não basta ter esse talento, é preciso saber aproveita-lo e desenvolve-lo nas várias vertentes do jogo e acima de tudo serem humildes e dedicados à sua causa. O Rui é um bom exemplo neste aspecto, costumo dizer que mais vale quem quer do que quem pode.

Selecção Sub 17


LB- Os campeonatos distritais este ano tiveram algumas alterações no seu modelo de competição, que análise fazes deste formato?

LC- As alterações que foram feitas esta época e na grande maioria das conversas que fui estabelecendo com as várias pessoas ligadas ao futsal, transmitiram-me feedbacks bastante positivos do novo modelo competitivo. Pessoalmente sou a favor deste formato de competição, vamos ter que realizar alguns ajustes aqui e ali de forma a melhorar os processos. Os play offs trouxeram mais emoção a nossa competição, assistiram-se a grandes jogos e com pavilhões cheios de adeptos a vibrarem com os jogos, sem dúvida que foi uma aposta ganha por parte da AFA.


LB- Muitos treinadores, adeptos e outros agentes ligados à modalidade no Algarve analisam e classificam de falta de qualidade a situação actual do nosso Futsal, que opinião tens?

LC- O Português é uma pessoa crítica e pessimista por natureza, prefiro ver esta questão de uma forma positiva, não para fazer jeito mas porque os resultados assim o dizem.
Saliento as excelentes prestações das nossas equipas nos campeonatos nacionais seniores masculinos (Albufeira, Louletano e Sonâmbulos). O futsal feminino do Padernense têm feito uma época fantástica, não só no Algarve mas também na taça nacional ao conseguirem o apuramento para o primeiro campeonato nacional feminino e agora na 2ª fase têm estado muito bem. Nos juniores masculinos o Albufeira futsal passou a 2ª fase da prova, no campeonato de Juvenis o Inter-Vivos lutou até a ultima jornada da taça nacional para passar a 2ª fase, já os Sonâmbulos tiveram uma prestação menos positiva para o que se estava a espera, depois de um excelente campeonato distrital.
As nossas selecções distritais fizeram excelentes campanhas nos vários torneios de inter associações.
Já alguma vez um atleta a jogar futsal numa equipa Algarvia tinha sido convocado para uma selecção nacional? Este ano tivemos o Rui e a Beatriz.
Agora digam-me onde está a falta de qualidade?
Se disserem que a nossa distrital sénior tem menos jogadores menos equipas, isso é verdade, mas nunca me revejo neste tipo de visão negativa e por vezes ignorando o excelente trabalho que têm sido feito por alguns clubes nos últimos anos.


LB- O futuro de qualquer modalidade passa sempre pela formação e o Futsal não é excepção, numa curta observação que podes dizer do trabalho que se faz no Algarve?

LC- Existem atletas com uma qualidade individual bastante razoável, mas com pouco conhecimento do jogo, é urgente dotar as pessoas que estão a frente das equipas de mais conhecimentos para que possam desenvolver um trabalho, mais competente e contribuir para que no futuro se formem melhores atletas de futsal, para isso é preciso que as pessoas que estão à frente das equipas demonstrem vontade em melhorar os seus conhecimentos.

É aqui que vamos ter de apostar mais forte nos próximos anos, não basta melhorar a competência das pessoas ligadas ao processo de treino, vamos ter de trazer mais equipas e com isso mais e melhores miúdos para o futsal de forma a aumentar os quadros competitivos.
Nos campeonatos de juniores e juvenis principalmente as 2,3 primeiras classificados apresentam um jogo interessante e em certos momentos com uma ideia colectiva definida as restantes funcionam no aleatório e no talento dos atletas.
Nos campeonatos abaixo (iniciados, infantis e benjamins) à um grande défice de conhecimento do jogo por parte dos atletas, ganham mais jogos as equipas que tem as melhores individualidades.
Tive o prazer de trabalhar com os sub 15, existem miúdos e miúdas com muita qualidade individual e quando chegam as selecções, nota-se claramente o não conhecimento do jogo. Nesta idade já deviam dominar de olhos fechados alguns princípios básicos do jogo. Com a passagem pelas selecções ficamos claramente a saber quais os treinadores que desenvolvem um trabalho mais competente.

Selecção Sénior Feminina


LB- O Algarve teve este ano 5 equipas nos campeonatos nacionais, 1 na 2ª. Divisão (Albufeira Futsal) e 4 na 3ª. Divisão (Louletano, Sonâmbulos, Centro Alte e Pedra Mourinha). Infelizmente duas destas equipas não conseguiram a tão desejada manutenção na 3ª. Divisão.
Será um sonho megalómano para a maioria das equipas algarvias quererem estar num patamar mais alto?

LC- Infelizmente para o nosso futsal nos últimos anos as equipas que têm subido à 3ª divisão nacional descem automaticamente no ano a seguir. Os números falam por si, nos últimos 7 anos, das equipas que subiram à 3ª divisão apenas 3 equipas se conseguiram manter por vários anos na 3ª divisão (Louletano, Universidade e Inter-Vivos).
Entendo que a possibilidade de participar na 3ª divisão para alguns clubes seja uma forma de dar a conhecer o clube, o bairro a terra e a ambição das pessoas que estão a frente dos clubes, mas na maioria dos casos esses clubes não têm estrutura nem condições para campeonatos nacionais. Tanto que alguns desses clubes que participam na 3ª divisão ao descerem de divisão acabam por extinguir o futsal no ano a seguir.
Na minha visão e com o conhecimento que tenho do futsal, o Algarve não têm condições para ter mais do que 3, 4 equipas nos campeonatos nacionais.
Para bem do futsal sénior no Algarve a extinção da 3ª divisão e a nova organização dos campeonatos nacionais e distritais são um bem necessário e urgente, penso que estas alterações já vêem com 2 anos de atraso, mas ainda vamos a tempo de inverter e melhorar a situação do futsal nacional.


LB- O Departamento Técnico da AFA, tem feito uma aproximação aos clubes e respectivos treinadores Algarvios, gostavas de referir o trabalho que têm feito nesse sentido e que projectos ainda podemos esperar?

LC- A aproximação aos clubes e treinadores Algarvios foi uma das tarefas que me pediram e penso que conseguimos claramente. Ainda na última reunião técnica estava um número muito significativo de treinadores a partilhar ideias e opiniões e a contribuir para o desenvolvimento da modalidade, sentimos que os clubes e treinadores estão mais perto de nós e juntamente com eles vamos melhorar o nosso futsal.
No início da próxima época vamos avançar com formações técnicas direccionadas aos treinadores em vários pontos do Algarve.
Queremos continuar a dar a oportunidade aos técnicos não só de estarem presentes nos treinos mas dar-lhes a oportunidade de trocarem algumas ideias e duvidas sobre o trabalho que foi feito no treino das selecções.
Só conseguimos melhorar, se partilharmos ideias, se nos ouvirmos uns aos outros, se pensarmos que somos os donos da verdade não vamos a lado nenhum.

Selecção Sub 20


LB- A inexistência de novos cursos de treinadores (dependente de regulamentação do governo e respectiva aprovação) pode ser um entrave para a evolução da modalidade?
Existem muitos clubes que todas as semanas são multados por não apresentarem na ficha de jogo treinadores credenciados, mas na realidade os cursos não estão a decorrer. Por outro lado o Algarve tem umas dezenas de treinadores que se retiraram da modalidade, acaba por ser estranho esta situação, falta de treinadores credenciados no activo e um número excessivo de treinadores credenciados na “reforma”, em tua opinião o que levou a esta situação?

LC- Já alguns anos que não se realizam cursos de treinadores no algarve. Surgiram novas pessoas na modalidade e que estão à frente das equipas sem curso de treinadores, é urgente avançar com novos cursos, mas é uma situação que não depende da AFA nem de nenhuma associação de futebol do país.
Quanto à retirada de muitas pessoas que têm curso e que já não estão na modalidade penso que podemos apontar diversos factores, alterações da vida pessoal e profissional que leva e falta de tempo, as questões financeiras, o estado económico dos clubes também tem a sua influência, cada caso é um caso, mas penso que estas são as principais razões.


LB- Como Seleccionador Algarvio que mensagem gostarias de deixar aos Dirigentes, Treinadores, Jogadores e adeptos Algarvios.

LC- Para os dirigentes e treinadores gostava de ver mais clubes a desenvolverem projetos com objetivos claros e com uma visão futurista para desenvolver a pessoa/atleta. Apostar principalmente nos escalões mais jovens (Iniciados, Infantis e benjamins), não fazer só para se dizer que se faz, tragam para estes escalões os melhores treinadores que conseguirem, para além dos custos na construção das equipas e participação nos campeonatos são muito mais reduzidos.
Para os jogadores que sejam ambiciosos, competentes e dedicados à modalidade, devem envolver-se na modalidade por exemplo na arbitragem ou passem a vossa experiência e conhecimentos para os mais novos, treinando as equipas, cada vez mais os clubes precisam que os atletas se envolvam nas direcções, em arranjar patrocínios, realizar actividades, o dinheiro fácil acabou, se todos dermos um pouco mais de nós estamos a melhorar as nossas próprias condições de treino, caso contrário arriscamo-nos no futuro, de não existirem os chamados clubes de bairro e já tivemos mais longe desta realidade.





LB- Para terminar, o Treinador Luis Conceição, que projectos gostarias de agarrar num futuro próximo?

LC- Neste momento revejo-me e identifico-me bastante com as pessoas que constituem o gabinete técnico e com o trabalho que estamos a desenvolver na AFA, prova disso é o feedback positivo que recebemos das pessoas que fazem parte dos clubes. Tem sido uma experiência maravilhosa e enriquecedora, nesta fase da minha vida e num futuro próximo não vai ser fácil voltar a trabalhar num clube da nossa região.
Revejo-me na competência e honestidade das pessoas e na ambição e orientação do projecto, nisto já não facilito, se juntar-mos todos estes ingredientes qualquer projecto tem pernas para andar, agora tenho muitas duvidas se na nossa região conseguimos juntar todos estes ingredientes num só projeto.


Agradeço uma vez mais a tua disponibilidade.
Luis Coutinho Barradas 

Sem comentários:

Enviar um comentário