Desloquei-me ao Pavilhão Dr. Eduardo Mansinho - Tavira, local de treinos e jogos da equipa Campeã do Algarve a Casa do Povo Sto. Estevão, onde fui recebido de uma forma muito simpática e acolhedora. Tenho que agradecer desde já ao Presidente José Barradas, a Tomás Viegas e toda a equipa, a disponibilidade que demonstraram para que esta entrevista fosse possível.
.A conversa começou com Tomás Viegas.... Tomás Viegas - Treinador .
Tomás a vossa equipa inicialmente não foi encarada como uma das candidatas ao titulo, mas com o decorrer da prova, os adversários foram mudando a forma como vos viam e começaram a olhar para a vossa equipa como uma séria candidata na luta pelo titulo Algarvio?
TOMÁS VIEGAS: É uma verdade o projecto inicial era aproveitarmos os miúdos que tínhamos cá e fazermos um trabalho de forma a que daqui a 2 anos conseguíssemos ter uma base, que compreendesse o meu modelo de jogo... Mas sou sincero e de inicio quando comecei e com uma pré-época que tivemos péssima eu cheguei a comentar com alguém que se não descêssemos já era bom, só que felizmente as coisas foram andando, foi evoluindo e a equipa cresceu imenso, mas ainda tem muito para crescer, estamos muito longe daquilo que eu pretendo e para ser campeão do Algarve, digo sinceramente, que se calhar existem equipas muito mais apetrechadas de que nós, mas isto é um campeonato, tem que se manter uma regularidade e nós fomos ganhando os nossos jogos, fomos aproveitando os deslizes dos outros e terminámos em primeiro e penso que justamente.
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Eu recordo-me que em Janeiro, no dia 7, quando publiquei a entrevista que fiz (ao Tomás) tinha feito referência que ainda faltava alguma experiência a esta equipa, porque os conceitos ainda não estavam bem adquiridos, mas pelos visto essa inexperiência, não foi vital para conseguirem o desejado titulo?
TOMÁS VIEGAS: Costuma-se dizer que não há campeão sem sorte e nós em algumas situações tivemos aquela pontinha de sorte. Porque existem coisas ainda... se analisarmos o jogo e o vermos ao pormenor, ainda existem falhas que são totalmente inadmissíveis numa equipa que quer ser campeã e que quer alcançar outros voos, mas vamos ver se isto não nos irá pagar caro, toda esta juventude, toda esta euforia... ainda neste ultimo jogo que tivemos frente ao Centro Alte, houve muita euforia, muito peito aberto e se calhar pensaram que só as camisolas chegavam para ganhar o jogo... e era um jogo que teoricamente era de ganhar, se o tivéssemos encarado como encaramos os outros, só que ouve algum desleixo, mas também se compreende... os miúdos - alguns de primeiro ano de seniores - conseguirem logo ser campeões e isto quer queiramos, quer não, sobe logo à cabeça e mexe um pouco com eles, como mexeu. Fizemos talvez a nossa pior primeira parte da época, incluindo, se calhar alguns jogos da pré-época. Mas a segunda parte foi diferente, tivemos outra atitude, aproximamo-nos um pouco daquilo que fomos ao longo da época. Mas mesmo assim cometemos muitos erros... depois de estarmos na frente do marcador, onde podíamos controlar o jogo... voltamos a cometer mais um erro... onde só houve um jogador (do alte) que acreditou que o nosso guarda-redes podia defender e foi à recarga e marcou. Mas vamos continuar a trabalhar, falta um jogo, que é aqui na nossa casa, e vamos tentar ganhar esse jogo.
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Qual foi o momento chave que o Tomás sentiu, que o sonho se poderia tornar realidade e chegarem a campeões do Algarve?
TOMÁS VIEGAS: Sinceramente, faltando 5 a 6 jornadas, senti e comecei realmente a envolver-me um pouco nisto e começar a acreditar. Tivemos um percalço, que foi a derrota em Lagos, em que pensei isto vai-se complicar, mas felizmente nesse fim de semana ou outros também não ganharam, houve um que apenas empatou... mas na semana seguinte, nós conseguimos ganhar e os outros escorregaram todos, e nós aproveitamos a embalagem e no jogo aqui em casa com o S. Pedro, mesmo que a Casa do Benfica tivesse ganho, faltava-nos um ponto, acredito que este empate no Alte, se tivéssemos necessidade de ganhar, teríamos encarado o jogo de outra forma e se não fossemos campeões a 2 jornadas do fim seriamos na seguinte...
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Na entrevista de Janeiro, fiz referência que a grande aquisição do Sto. Estevão desta época não tinha sido um jogador mas sim o Tomás e a sua grande experiência. E recordo que o Tomás se referiu a isso como um valor acrescido. O que prova que na realidade a experiência do Tomás foi uma mais valia para esta equipa?
TOMÁS VIEGAS: Como disse naquela altura, fui tentando passar essa minha experiência para os jogadores, mas nem sempre é fácil. pode-se ser o melhor treinador do mundo, mas se os jogadores não quiserem colaborar não se consegue fazer nada. E os jogadores colaboraram, os mais velhos sempre incentivando os mais novos, estes corrigindo algumas deficiências, que ainda têm, mas foram corrigindo aos poucos e há jogadores que tiveram uma evolução enorme. Principalmente um, que é um dos jogadores preponderantes, muito bom no 1x1, mas que era um jogador que em termos defensivos ficava muito aquém. Ainda não está perfeito, mas a perfeição nunca se consegue atingir, mas podemos tentar aproximar ao máximo, mas este jogador evoluiu muito em termos defensivos. Os outros em termos de conjunto começaram a perceber a minha filosofia de jogo, aquilo que eu pretendia, começaram a fazer as passagens, começaram a fazer bem as dobras, começaram a aprender a jogar em entre-linhas, na busca e que era quase impensável no principio, quando aqui cheguei... mas a equipa foi crescendo aos poucos, e como sabem as vitórias vão dando moral e elas foram surgindo e eles começaram a acreditar e conseguimos. Penso que justamente.
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Avaliando o campeonato deste ano, que para mim foi um dos mais nivelados dos últimos anos, é bom para o futsal Algarvio aparecerem 4 equipas a disputar o titulo até final da competição?
TOMÁS VIEGAS: É muito bom... é saudável e em termos competitivos qualquer equipa que seja campeã num campeonato competitivo vai muito melhor preparada para uma 3ª. Divisão Nacional. E como disse em Janeiro eu não conhecia muito bem o futsal Algarvio, mais propriamente o Distrital, já que estive muito tempo nos nacionais, mas em minha opinião existe já muito trabalho no distrital, mas penso que poderia existir um melhor trabalho, existem equipas com muitos bons jogadores, mas em termos colectivos... não sei se privilegiam mais o individual, mas penso que o futsal está melhor do que estava à uns anos, mas pensava que estava um pouco melhor, e se formos analisar isto friamente e se formos ver o que nos fez sermos campeões, foi a nossa organização o nosso trabalho e se vermos o ano passado, houve uma equipa que subiu praticamente com uma perna às costas e essa equipa foi a mais organizada em termos colectivos, e subiu com uma grande diferença, por isso digo que se a minha equipa tivesse mais um ano de trabalho, se calhar em vez de termos subido a 2 jornadas do final do campeonato, tínhamos subido a 4 jornadas. Encontrei nas outras equipas alguma irregularidade, algum desnorte e em muitas delas em termos defensivos, em minha opinião deixam muito a desejar. O campeonato ainda não terminou, somos neste momento a melhor defesa, o segundo melhor ataque. Eu digo sempre que os bons golos e os bons jogadores resolvem jogos, mas as boas equipas e os colectivos ganham campeonatos.
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E o futuro, o que podemos esperar do Sto. Estevão na 3ª. Divisão?
TOMÁS VIEGAS: Vamos ver... Há sempre esperança, o grupo é muito jovem, aquilo que nós ambicionávamos era irmos buscar alguns jogadores com mais experiência, mas também não é fácil. E se conseguirem reunir o mínimo de condições que eu pedi para eu continuar com o projecto, mesmo com uma equipa jovem, mas com a impossibilidade de ir buscar jogadores com mais experiência, se calhar vamos tentar ir buscar jogadores jovens, mas com qualidade. Sei que é um risco, conheço a 3ª. Divisão Nacional, não é que existam grandes equipas na 3ª. Divisão, mas são equipas muito certinhas, com alguns jogadores já batidos e a inexperiência pudesse pagar cara. A vida é feita de riscos, foi um risco quando para aqui vim e quando alguém me disse que gostava de ser campeão, era um risco... portanto, vamos tentar reunir um grupo forte, vamos para a 3ª. Divisão Nacional, para que possamos permanecer lá, porque o primeiro ano é o mais difícil de todos e é mais difícil permanecer na 3ª. do que ser campeão na distrital, tenho a certeza absoluta disso.
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Com a experiência do Tomás, como foi trabalhar com um presidente que tem conhecimentos de futsal, já que também é treinador, o que muitas vezes não acontece, a grande maioria dos directores não têm conhecimentos técnicos?
TOMÁS VIEGAS: Foi muito fácil. Eu conhecia o Barradas, não intimamente, estou muito satisfeito, mostrou sempre abertura, mostrou sempre confiança em mim, muitas vezes elogiando acho que em demasia e isso às vezes pode-nos fazer envaidecer. Foi alguém que sempre foi frontal, que sempre esteve à disposição, que sempre me forneceu o máximo que podia, penso que se não forneceu mais condições foi porque também não pode, mas para mim foi uma agradável surpresa trabalhar com ele... e se houver condições, continuarei a trabalhar.
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Uma ultima pergunta se o Sto. Estevão conseguir o objectivo de se manter na 3ª. Divisão, podemos esperar voos mais altos?
TOMÁS VIEGAS: Se nos conseguirmos manter na 3ª., penso que no ano seguinte passará por fazermos o melhor possível, se depois houver condições para reforçar a equipa e pensar noutros voos certamente que não rejeitaremos. Vamos tentar ir passo a passo é uma equipa jovem... Mas não digo logo subir de divisão, mas pelo menos fazer um campeonato mais tranquilo, chegar um pouco mais acima e sempre que possível vamos sempre ambicionando mais, eu se puder terminar em primeiro, certamente não terminarei em segundo...
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O Guarda-redes...
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Ricardo "Quebra"
Guarda-redes - 29 anos
6 anos futsal
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Quebra, quero dar-lhe os parabéns pelo feito conseguido.
Como foi trabalhar com um treinador como o Tomás, com grande experiência?
QUEBRA: Desde já obrigado. Felizmente para mim não foi a primeira vez que trabalhei com o Tomás. Já tinha trabalhado com ele nos Sonâmbulos, já tinha sido campeão com ele nos Sonâmbulos e para mim voltar a trabalhar com o Tomás foi uma enorme alegria. Acima de tudo o Tomás trouxe disciplina a este grupo, porque precisava, andava um pouco à deriva. Essencialmente no aspecto da disciplina, o ano passado não correu tão bem. Por exemplo no último jogo a 30 minutos do fim estávamos com um pé na 2ª. Divisão Distrital, mas felizmente conseguimos mantermo-nos e este ano foi um ano fantástico.
Para si qual foi o momento chave... aquele momento em que sentiram que poderiam ser campeões?
QUEBRA: Para mim foi no jogo em Castro Marim com os Putos da Rua, eu na primeira parte sou expulso e uma equipa de futsal tem que ter pelo menos 2 jogadores para cada lugar e nesse aspecto o Sto. Estevão este ano estava bem servido de guarda-redes e quando fui expulso, não se notou a diferença e o meu colega Rui entrou muito bem no jogo (foi o jogo que foi interrompido ao intervalo) e nesse jogo senti que a equipa estava preparada para a subida.
Este campeonato foi um dos mais equilibrados, que diferenças sentiu deste para os outros anos anteriores?
QUEBRA: Há 6 anos que estou no futsal e este ano foi o mais equilibrado de sempre, porque hoje em dia todas as equipas trabalham bem, têm bons treinadores, bons jogadores e o futsal evoluiu, esse foi o aspecto mais importante. Porque já existe muita paixão tanto pelos treinos como pelos jogos no que diz respeito aos jogadores.
Quais as suas expectativas para a 3ª. Divisão Nacional e quais os sonhos?
QUEBRA: Em primeiro lugar era tentar manter o treinador isso era essencial, um treinador com esta qualidade tem sempre equipas atrás a quererem que ele vá trabalhar para essas mesmas equipas e depois é a manutenção na 3ª. Divisão, não nos podem exigir mais.
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Honorato um dos mais jovens do grupo de trabalho...
Honorato