NOME: Ruben Guerreiro
ANOS COMO ÁRBITRO:
10 anos
ANOS COMO
ÁRBITRO NACIONAL: 6 anos
IDADE: 29 anos
É um dos
jovens árbitros algarvios, que cedo começou a dar passos na arbitragem. Hoje é
já uma certeza da arbitragem algarvia e uma das promessas da arbitragem
nacional.
LUIS BARRADAS- Ruben como
começou esse gosto pela arbitragem, quando a maioria dos jovens querem é jogar?
Ruben
Guerreiro-
Filho de peixe sabe nadar, como já diz o velho ditado. O meu pai foi árbitro de
futebol, o meu irmão também tirou o curso de futebol tendo anos mais tarde
ingressado também no futsal. Na altura em que surgiu a oportunidade de tirar o
curso de arbitro foi-me proposto que tirasse o curso de arbitro de futebol, mas
não era algo que eu gostasse, então o meu pai e irmão incentivaram-me a ir
experimentar tirar o curso de futsal, fui, gostei e assim surgiu a paixão pela
arbitragem.
LB- O papel do árbitro é
com toda a certeza difícil, e semanalmente são postos à prova. Tratando-se de
um árbitro jovem esse peso acaba por ser maior, como é lidar com essa pressão?
RG- Ser árbitro por si só é
complicado, o fator idade ainda dificulta mais as situações, por vezes somos
olhados como jovens e inexperientes, mas são mentalidades que se tem alterado
com o decorrer dos anos, hoje em dia a idade não importa desde que o trabalho
realizado dentro da superfície de jogo seja efetuado de forma correta.
A pressão sobre os árbitros é sempre grande, a margem de erro é
mínima ou nula, nos mais jovens tem dois pontos de vista, há pessoas que dão
maior tolerância porque se é jovem, mas há outras que não dão margem de manobra
ao erro, tem de se aprender a lidar com isso e fazer o melhor trabalho
possível.
LB- Na modalidade a
arbitragem é a que menos adeptos consegue angariar, por exemplo no algarve é
notório a dificuldade que a AFA tem em conseguir novos árbitros, a pressão
dessa função será o maior handicap?
RG- Penso que o principal
problema na angariação de novos árbitros não parte da pressão, o grande entrave
parte da fiscalidade, é extremamente difícil arranjar árbitros jovens
disponíveis para passar recibos verdes. A realidade de um jovem que estuda não
pode passar recibos por correr o risco de ficar sem bolsa de estudo por
consequência de ser árbitro, algo tem de mudar na arbitragem, principalmente
para os árbitros jovens.
Para além da fiscalidade existe pouco interesse por parte dos
jovens, muito deles querem é praticar outras modalidades e não arbitrar,
compreensível. Corremos o risco de a longo prazo não ter árbitros para arbitrar
as competições distritais, os poucos que tiram os cursos acabam por desistir
devido às condições fiscais, ou porque pensavam que arbitrar era diferente ou
por outras situações. A AFA tem de pensar num plano estratégico para angariar
novos árbitros e mante-los em atividade, senão corre o risco de deixar de ter
árbitros.
LB- Tanto ao nível dos
treinadores como dos árbitros a formação permanente é essencial para a evolução
dos mesmos, sendo um árbitro do nacional essa formação é mais efectiva. Sentes
que a arbitragem algarvia está ao mesmo nível da de outras regiões do país?
RG- A formação é essencial na
carreira de um árbitro, as leis de jogo são alteradas muitas vezes, temos
regulamentação e normas que também são precisas saber. A nível nacional temos
formação obrigatória, essa formação ajuda bastante na evolução dos árbitros, a
nível do distrital no algarve a mesma também é obrigatória, mas muitos árbitros
pensam que arbitrar é só ir ao fim de semana com o saco e o apito para os
pavilhões.
Existe um desinteresse por parte dos árbitros, alguns porque já não
têm idade para poderem subir de divisão, outros porque não se interessam,
outros porque o trabalho não permite.
Devido a estas condicionantes a arbitragem algarvia está abaixo de
algumas associações, nas quais a competitividade é maior devido ao número
superior de árbitros nos quadros.
LB- Como analisas o
estado actual da arbitragem algarvia?
RG- O algarve tem bons
árbitros, temos árbitros nos vários escalões da arbitragem nacional, desde da Categoria
C1 à C2B, contamos com vários árbitros que têm qualidade.
Mas a médio / longo prazo não prevejo uma melhoria nesse sector,
devido à escassez de árbitros no algarve, se não há quantidade é mais difícil
haver qualidade.
Tem de partir por parte do Conselho
de arbitragem uma maior formação aos poucos árbitros que temos com qualidade
para poderem aspirar a subir aos quadros nacionais.
LB- Se em termos de jogo,
comparando o distrital com os nacionais a exigência é superior, tanto em
velocidade de jogo como na questão técnico-táctica, para um árbitro que
exigências se pedem?
RG- As exigências aos árbitros
variam de divisão para divisão, na categoria C1 onde estão inseridos os
árbitros que apitam a 1º Divisão Nacional os árbitros são muito bem preparados,
nada é deixado ao acaso desde dos aspetos táticos, técnicos, físicos, mentais,
estudamos lances de jogos para que o erro seja mínimo, o futsal está de uma
maneira evoluído que se não nos preparamos, quando estamos na superfície de
jogo não conseguimos corresponder e perceber o jogo.
LB- Tu que já dirigiste
vários jogos com pavilhões cheios, transmissões televisivas, que preparação tem
um árbitro para um jogo desta dimensão?
RG- Hoje em dia cada vez mais os
árbitros preparam-se mais para os jogos, fazem um estudo das equipas, de jogos
anteriores, dos jogadores que vão jogar ou que vão ser convocados. Existe um
estudo muito grande para que nada seja deixado ao acaso e não sejamos
surpreendidos dentro da superfície de jogo.
Os jogos com transmissão televisiva ou pavilhões cheios são sempre
diferentes, a preparação é a mesma ou maior, são jogos nos quais a margem de erro
é nula, pois temos várias câmaras a filmar o jogo, na qual mostram varias
repetições de vários ângulos das faltas ou lances de dúvida.
São jogos diferentes, mas dentro da superfície de jogo temos de nos
abstrair disso e fazer o nosso trabalho da melhor maneira.
LB- Em Dezembro de 2012
estiveste no Mundial Feminino em Oliveira de Azeméis, e há cerca de um mês na
Final Four da Taça de Portugal, acredito que sejam momentos únicos e
importantes na carreira de um árbitro, podes contar um pouco esses momentos?
RG- Os grandes eventos são
sempre especiais e marcam a carreira de um árbitro, tenho tido a felicidade de
ser chamado para os torneios.
O Mundial Feminino foi sem dúvida uma experiencia inesquecível,
conviver de perto com árbitros de grande qualidade, quer os nossos
Internacionais Portugueses, quer os árbitros dos outros países, são
experiencias que são partilhadas dentro e fora da superfície de jogo, é
especial e enriquecedor quer a nível cultural, tático e pessoal.
A Final Four da taça de
Portugal foi outro evento marcante, estar no torneio onde estão as equipas
finalistas e fazer parte dele é sempre bom, é nestas competições que os
árbitros evoluem também e crescem como árbitros e pessoas.
LB- Falando agora um
pouco da arbitragem nos jogos dos escalões de formação, gostava de saber a tua
opinião sobre a melhor forma de dirigir esses jogos?
RG- Os escalões de formação são
escalões diferentes, não menos importantes que os outros, são escalões que têm
de ser arbitrados de forma diferente, no qual para além de fazermos cumprir as
leis de jogo, temos também a função de formador.
Especialmente nos escalões dos mais pequenos em que ensinamos por
vezes os pequenos a marcar corretamente um pontapé de linha lateral ou a não
ter atitudes incorretas.
A melhor forma de dirigir estes jogos não esta escrita em nenhum
lado, parte muito da sensibilidade de cada arbitro e do bom senso, cada
situação tem de ser analisada e resolvida da maneira mais correta.
LB- Como árbitro, sentes
que são uma classe isolada dos restantes agentes da modalidade?
RG- Não penso que sejamos uma
classe isolada, acho sim que por vezes somos em parte esquecidos ou postos como
uma ferramenta do jogo, mas essas mentalidades cada vez têm mudado mais.
Os árbitros são encarados como pessoas intervenientes no jogo e são
respeitados por isso.
Cabe aos árbitros fazer ver a importância dos mesmos junto dos
diferentes agentes da modalidade e fazerem-se respeitar por isso.
LB- Que balanço fazes da
época que está a terminar?
RG- Neste momento após as
classificações terem saído faço um balanço positivo, sendo a época que terminou
uma época complicada, senão a mais complicada de sempre desde que estou nos
quadros nacionais, na categoria onde estava C1, em 30 árbitros desciam 12 para
a categoria C2, quando nos outros anos eram apenas 5. Foi uma época complicada
em que o trabalho fora de campo a nível físico e de estudo ajudou para o desempenho
dentro do campo e para a classificação final, na qual fiquei em 11º Lugar.
Queria deixar uma palavra de
agradecimento para os meus colegas de equipa Rui Pinto e Rita Paleta que me
ajudaram dentro e fora de campo para que os objetivos fossem cumpridos e um
agradecimento à minha família.
LB- Para os jovens que se
estão a iniciar na arbitragem que mensagem gostarias de deixar?
RG- Para os mais jovens que
iniciam agora a arbitragem podem contar com algo diferente do que fazem na sua
vida quotidiana, ser árbitro é fazer parte do jogo, é uma paixão.
Há um grande caminho a percorrer para chegar ao topo, nada é
impossível, mas só com esforço, dedicação, estudo e treino se consegue chegar lá.
Por vezes vão ter de abdicar de muita coisa em prol da arbitragem, mas no fim
vai compensar o que abdicaram, porque a sensação de felicidade que vão sentir,
vai ser melhor que tudo.
Uma coisa é essencial para chegar longe, humildade, ser sempre
humilde e saber ouvir as pessoas, retirar da crítica uma mais-valia.
LB- És ainda um jovem
árbitro, para muitos o melhor árbitro do algarve, que sonhos tem o árbitro
Ruben?
RG- “O sonho comanda a vida”, como todas as pessoas tenho os meus
sonhos, cheguei à 4 anos à 1º Categoria Nacional Futsal , atual C1 , atingi
esse objetivo, mas os sonhos não ficam por ai.
Vou continuar a estudar, treinar e dedicar-me à arbitragem para
puder evoluir e tornar-me melhor árbitro, o que vier por acréscimo será muito
bem-vindo.
Queria agradecer a oportunidade que me deu para transmitir o que é
a vida e pensamentos de um árbitro, uma grande oportunidade.
Continuação de um excelente trabalho, como tem vindo a desenvolver.
Saudações Desportivas
Rúben Guerreiro
Agradeço uma
vez mais a tua disponibilidade.
Luis
Coutinho Barradas
Fotos enviadas por Ruben Guerreiro