sexta-feira, 5 de julho de 2013

ENTREVISTAS


Ao longo dos anos tenho efectuado várias entrevistas com Treinadores, Jogadores e Dirigentes ligados ao futsal, é uma forma de dar também a conhecer estes intervenientes da “nossa” modalidade.
E é com enorme prazer que continuo, e a partir dos próximos dias trarei a este cantinho mais alguns intervenientes, posso desde já anunciar alguns dos eleitos:

  • ·        Seleccionador Algarvio – Prof. Luis Conceição;
  • ·        Rui Oliveira – Jogador do Albufeira Futsal;
  • ·        Manolo Pagani – Treinador do Sporting Clube Farense;
  • ·        Nuno China – GR – Jogador do Uni Futsal Team Bulle (Suiça);
  •          Ruben Guerreiro - Árbitro Nacional;
  •          John Contreiras - Treinador do Louletano;
  •          Nuno Xabregas - Treinador dos Sonâmbulos.
  •          Vitor Santos - Treinador Padernense C. (Femininos)
  •          Rosa Coutinho - Treinador do Albufeira Futsal

Luis Coutinho Barradas

Ruben Guerreiro... Árbitro Algarvio... Pensamentos e sonhos!!!

NOME: Ruben Guerreiro
ANOS COMO ÁRBITRO: 10 anos
ANOS COMO ÁRBITRO NACIONAL: 6 anos
IDADE: 29 anos

É um dos jovens árbitros algarvios, que cedo começou a dar passos na arbitragem. Hoje é já uma certeza da arbitragem algarvia e uma das promessas da arbitragem nacional.


LUIS BARRADAS- Ruben como começou esse gosto pela arbitragem, quando a maioria dos jovens querem é jogar?

Ruben Guerreiro- Filho de peixe sabe nadar, como já diz o velho ditado. O meu pai foi árbitro de futebol, o meu irmão também tirou o curso de futebol tendo anos mais tarde ingressado também no futsal. Na altura em que surgiu a oportunidade de tirar o curso de arbitro foi-me proposto que tirasse o curso de arbitro de futebol, mas não era algo que eu gostasse, então o meu pai e irmão incentivaram-me a ir experimentar tirar o curso de futsal, fui, gostei e assim surgiu a paixão pela arbitragem.


LB- O papel do árbitro é com toda a certeza difícil, e semanalmente são postos à prova. Tratando-se de um árbitro jovem esse peso acaba por ser maior, como é lidar com essa pressão?

RG- Ser árbitro por si só é complicado, o fator idade ainda dificulta mais as situações, por vezes somos olhados como jovens e inexperientes, mas são mentalidades que se tem alterado com o decorrer dos anos, hoje em dia a idade não importa desde que o trabalho realizado dentro da superfície de jogo seja efetuado de forma correta.
A pressão sobre os árbitros é sempre grande, a margem de erro é mínima ou nula, nos mais jovens tem dois pontos de vista, há pessoas que dão maior tolerância porque se é jovem, mas há outras que não dão margem de manobra ao erro, tem de se aprender a lidar com isso e fazer o melhor trabalho possível.
LB- Na modalidade a arbitragem é a que menos adeptos consegue angariar, por exemplo no algarve é notório a dificuldade que a AFA tem em conseguir novos árbitros, a pressão dessa função será o maior handicap?

RG- Penso que o principal problema na angariação de novos árbitros não parte da pressão, o grande entrave parte da fiscalidade, é extremamente difícil arranjar árbitros jovens disponíveis para passar recibos verdes. A realidade de um jovem que estuda não pode passar recibos por correr o risco de ficar sem bolsa de estudo por consequência de ser árbitro, algo tem de mudar na arbitragem, principalmente para os árbitros jovens.
Para além da fiscalidade existe pouco interesse por parte dos jovens, muito deles querem é praticar outras modalidades e não arbitrar, compreensível. Corremos o risco de a longo prazo não ter árbitros para arbitrar as competições distritais, os poucos que tiram os cursos acabam por desistir devido às condições fiscais, ou porque pensavam que arbitrar era diferente ou por outras situações. A AFA tem de pensar num plano estratégico para angariar novos árbitros e mante-los em atividade, senão corre o risco de deixar de ter árbitros.


LB- Tanto ao nível dos treinadores como dos árbitros a formação permanente é essencial para a evolução dos mesmos, sendo um árbitro do nacional essa formação é mais efectiva. Sentes que a arbitragem algarvia está ao mesmo nível da de outras regiões do país?

RG- A formação é essencial na carreira de um árbitro, as leis de jogo são alteradas muitas vezes, temos regulamentação e normas que também são precisas saber. A nível nacional temos formação obrigatória, essa formação ajuda bastante na evolução dos árbitros, a nível do distrital no algarve a mesma também é obrigatória, mas muitos árbitros pensam que arbitrar é só ir ao fim de semana com o saco e o apito para os pavilhões.
Existe um desinteresse por parte dos árbitros, alguns porque já não têm idade para poderem subir de divisão, outros porque não se interessam, outros porque o trabalho não permite.
Devido a estas condicionantes a arbitragem algarvia está abaixo de algumas associações, nas quais a competitividade é maior devido ao número superior de árbitros nos quadros.


LB- Como analisas o estado actual da arbitragem algarvia?

RG- O algarve tem bons árbitros, temos árbitros nos vários escalões da arbitragem nacional, desde da Categoria C1 à C2B, contamos com vários árbitros que têm qualidade.
Mas a médio / longo prazo não prevejo uma melhoria nesse sector, devido à escassez de árbitros no algarve, se não há quantidade é mais difícil haver qualidade.
Tem de partir por parte do Conselho de arbitragem uma maior formação aos poucos árbitros que temos com qualidade para poderem aspirar a subir aos quadros nacionais.
LB- Se em termos de jogo, comparando o distrital com os nacionais a exigência é superior, tanto em velocidade de jogo como na questão técnico-táctica, para um árbitro que exigências se pedem?

RG- As exigências aos árbitros variam de divisão para divisão, na categoria C1 onde estão inseridos os árbitros que apitam a 1º Divisão Nacional os árbitros são muito bem preparados, nada é deixado ao acaso desde dos aspetos táticos, técnicos, físicos, mentais, estudamos lances de jogos para que o erro seja mínimo, o futsal está de uma maneira evoluído que se não nos preparamos, quando estamos na superfície de jogo não conseguimos corresponder e perceber o jogo.


LB- Tu que já dirigiste vários jogos com pavilhões cheios, transmissões televisivas, que preparação tem um árbitro para um jogo desta dimensão?

RG- Hoje em dia cada vez mais os árbitros preparam-se mais para os jogos, fazem um estudo das equipas, de jogos anteriores, dos jogadores que vão jogar ou que vão ser convocados. Existe um estudo muito grande para que nada seja deixado ao acaso e não sejamos surpreendidos dentro da superfície de jogo.
Os jogos com transmissão televisiva ou pavilhões cheios são sempre diferentes, a preparação é a mesma ou maior, são jogos nos quais a margem de erro é nula, pois temos várias câmaras a filmar o jogo, na qual mostram varias repetições de vários ângulos das faltas ou lances de dúvida.
São jogos diferentes, mas dentro da superfície de jogo temos de nos abstrair disso e fazer o nosso trabalho da melhor maneira.


LB- Em Dezembro de 2012 estiveste no Mundial Feminino em Oliveira de Azeméis, e há cerca de um mês na Final Four da Taça de Portugal, acredito que sejam momentos únicos e importantes na carreira de um árbitro, podes contar um pouco esses momentos?

RG- Os grandes eventos são sempre especiais e marcam a carreira de um árbitro, tenho tido a felicidade de ser chamado para os torneios.
O Mundial Feminino foi sem dúvida uma experiencia inesquecível, conviver de perto com árbitros de grande qualidade, quer os nossos Internacionais Portugueses, quer os árbitros dos outros países, são experiencias que são partilhadas dentro e fora da superfície de jogo, é especial e enriquecedor quer a nível cultural, tático e pessoal.
A Final Four da taça de Portugal foi outro evento marcante, estar no torneio onde estão as equipas finalistas e fazer parte dele é sempre bom, é nestas competições que os árbitros evoluem também e crescem como árbitros e pessoas.
LB- Falando agora um pouco da arbitragem nos jogos dos escalões de formação, gostava de saber a tua opinião sobre a melhor forma de dirigir esses jogos?

RG- Os escalões de formação são escalões diferentes, não menos importantes que os outros, são escalões que têm de ser arbitrados de forma diferente, no qual para além de fazermos cumprir as leis de jogo, temos também a função de formador.
Especialmente nos escalões dos mais pequenos em que ensinamos por vezes os pequenos a marcar corretamente um pontapé de linha lateral ou a não ter atitudes incorretas.
A melhor forma de dirigir estes jogos não esta escrita em nenhum lado, parte muito da sensibilidade de cada arbitro e do bom senso, cada situação tem de ser analisada e resolvida da maneira mais correta.


LB- Como árbitro, sentes que são uma classe isolada dos restantes agentes da modalidade?

RG- Não penso que sejamos uma classe isolada, acho sim que por vezes somos em parte esquecidos ou postos como uma ferramenta do jogo, mas essas mentalidades cada vez têm mudado mais.
Os árbitros são encarados como pessoas intervenientes no jogo e são respeitados por isso.
Cabe aos árbitros fazer ver a importância dos mesmos junto dos diferentes agentes da modalidade e fazerem-se respeitar por isso.


LB- Que balanço fazes da época que está a terminar?

RG- Neste momento após as classificações terem saído faço um balanço positivo, sendo a época que terminou uma época complicada, senão a mais complicada de sempre desde que estou nos quadros nacionais, na categoria onde estava C1, em 30 árbitros desciam 12 para a categoria C2, quando nos outros anos eram apenas 5. Foi uma época complicada em que o trabalho fora de campo a nível físico e de estudo ajudou para o desempenho dentro do campo e para a classificação final, na qual fiquei em 11º Lugar.
Queria deixar uma palavra de agradecimento para os meus colegas de equipa Rui Pinto e Rita Paleta que me ajudaram dentro e fora de campo para que os objetivos fossem cumpridos e um agradecimento à minha família.
LB- Para os jovens que se estão a iniciar na arbitragem que mensagem gostarias de deixar?

RG- Para os mais jovens que iniciam agora a arbitragem podem contar com algo diferente do que fazem na sua vida quotidiana, ser árbitro é fazer parte do jogo, é uma paixão.
Há um grande caminho a percorrer para chegar ao topo, nada é impossível, mas só com esforço, dedicação, estudo e treino se consegue chegar lá. Por vezes vão ter de abdicar de muita coisa em prol da arbitragem, mas no fim vai compensar o que abdicaram, porque a sensação de felicidade que vão sentir, vai ser melhor que tudo.
Uma coisa é essencial para chegar longe, humildade, ser sempre humilde e saber ouvir as pessoas, retirar da crítica uma mais-valia.


LB- És ainda um jovem árbitro, para muitos o melhor árbitro do algarve, que sonhos tem o árbitro Ruben?

RG- O sonho comanda a vida”, como todas as pessoas tenho os meus sonhos, cheguei à 4 anos à 1º Categoria Nacional Futsal , atual C1 , atingi esse objetivo, mas os sonhos não ficam por ai.
Vou continuar a estudar, treinar e dedicar-me à arbitragem para puder evoluir e tornar-me melhor árbitro, o que vier por acréscimo será muito bem-vindo.
Queria agradecer a oportunidade que me deu para transmitir o que é a vida e pensamentos de um árbitro, uma grande oportunidade.
Continuação de um excelente trabalho, como tem vindo a desenvolver.

Saudações Desportivas

Rúben Guerreiro


Agradeço uma vez mais a tua disponibilidade.
Luis Coutinho Barradas

Fotos enviadas por Ruben Guerreiro