quinta-feira, 13 de maio de 2010

ENTREVISTA A LUIS CONCEIÇÃO - TREINADOR INTER-VIVOS


NOME: Luis Conceição
CURSO TREINADOR FUTSAL: NIVEL III
ANOS COMO TREINADOR: 10 anos
CLUBES QUE TREINOU: Inter-Vivos (2000/01 a 2005/06), Sapalense (2006/2007), Inter-Vivos (2007/08 a 2009/10)
IDADE: 33 anos


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Martinlongo ou Martim-Longo, como preferirem entrou no mapa do Futsal Nacional, com a sua equipa Inter-Vivos.
A nossa representante mais longínqua destas terras Algarvias fez a sua estreia no Campeonato Nacional da 3ª. Divisão Nacional. Ao leme deste barco temos o Prof. Luis Conceição, um treinador jovem, mas experiente e de grande capacidade e competência.
Numa realidade distinta de todo o Algarve em que os recursos humanos e materiais não são os mesmos de toda a região, esta jovem equipa conseguiu a manutenção na 3ª. Divisão Nacional com distinção.
Hoje trago à conversa Luis Conceição.
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Em primeiro lugar quero felicitar a equipa do Inter-Vivos, pela manutenção conseguida, e pelo extraordinário campeonato que fizeram.
Luis, numa equipa tão jovem, o que conseguiram, foi na realidade algo extraordinário?

LUIS CONCEIÇÃO: Obrigado Luís pelas felicitações. De facto foi uma época fantástica a todos os níveis. Em certos momentos conseguimos mesmo superar todas as nossas expectativas mais realistas. Foi uma época que fica para sempre nas nossas melhores recordações desportivas.

O trajecto da vossa equipa, foi muito interessante, apesar da juventude da equipa, para isso conta também os anos que a maioria dos atletas têm de Futsal e encararem a modalidade de forma séria é essa realidade?
LC: A equipa é bastante jovem, a 3ª mais jovem do campeonato e provavelmente a equipa com menos jogadores com experiência de campeonatos nacionais. Estávamos cientes das dificuldades que íamos passar, sabíamos que muita juventude para os campeonatos nacionais pode ser em certos momentos um desequilíbrio negativo mas também pode ser positivo e ao mesmo tempo ambicioso.
É uma equipa muito jovem mas grande parte destes atletas trabalham juntos a mais de 5 épocas e sempre no futsal o que torna a equipa mais sólida e competente com princípios de jogo bem rotinados e consolidados.
Tenho de realçar a forma séria como estes jovens trabalham diariamente não é fácil encontrar equipas tão jovens e com a capacidade de trabalho e maturidade que estes jovens apresentam. Mas acima de tudo é a nossa ambição e a força do grupo que nos faz ultrapassar os momentos menos bons. Estes são alguns dos segredos do nosso sucesso.


Como sabemos as competências e capacidade de trabalho dos técnicos, são o espelho das suas equipas, e a grande maioria vê essas qualidades em ti. Tentas transmitir aos teus atletas todo esse conhecimento de forma a que possam tirar um melhor aproveitamento / rendimento do trabalho semanal?
LC: Das coisas que mais gosto é o treino, sou apaixonado pelo treino e pela construção de exercícios não consigo fazer 2 treinos iguais ao longo de uma época tenho que criar sempre um factor novo, uma surpresa, de forma a alterar a concentração e motivação dos meus atletas. Eles nunca podem saber o que vou fazer a seguir a este exercício.
A esta tua pergunta dou-te este exemplo, num dos últimos treinos da época vira-se um jogador para mim e diz-me “Mister estamos no final da época e ainda estão a surgir coisas novas”.
Se quero ganhar sempre tenho que lhes dar toda a informação possível, à que penso ser a mais correcta. Construi-mos a nossa ideia de jogo com algumas variantes nos vários momentos do jogo, depois durante a semana insistimos mais neste ou naquele pormenor consoante as características do adversário. Mas o adversário está sempre no nosso horizonte.


A vossa equipa tem muitos atletas que vêm da vossa formação, no entanto este ano só apresentam 1 equipa nos escalões de formação. Porque os recursos são poucos em termos de jovens ou são os financeiros, que ditam esse corte em termos de equipas?
LC: Custa a acreditar mas é verdade, só apresenta-mos uma equipa na formação porque não existem na nossa zona técnicos ou pessoas habilitadas e com competências para trabalhar com eles. Tivemos que abandonar a equipa de Juvenis porque não encontra-mos ninguém para assumir essa tarefa. Com muita tristeza nossa mas não nos podemos desdobrar. Alguns destes miúdos dos Juvenis vão realizando pontualmente um trabalho com a equipa sénior ao longo da época.

Podemos dizer que o Inter-Vivos tem condições de trabalho / treino – instalações – mas depois deparam-se com outras dificuldades, que são a capacidade de recrutamento de novos jogadores, dada a distância a que a vossa terra se encontra. Têm que ser imaginativos para conseguir chamar os poucos jovens que existem no vosso concelho de forma a que sintam vontade e prazer em praticar Futsal?
LC: A nível de instalações somos dos poucos clubes do Algarve com um pavilhão praticamente só utilizado por nós e conseguimos gerir o tempo de treino um pouco a nossa vontade.
Por outro lado temos as distâncias e o isolamento que são de facto o nosso principal obstáculo. Para forma-mos as nossas equipas mesmo na formação temos de percorrer todo o concelho em procura de atletas, as nossas carrinhas fazem dezenas de quilómetros por dia. Existem crianças que para treinar perdem uma hora em transportes. Este factor saí muito caro ao clube para teres uma ideia, 25% do nosso orçamento é para transportes e motoristas.


Que análise fazes à vossa participação na 3ª. Divisão Nacional?
LC: Só pode ser uma análise positiva não só porque conseguimos alcançar o objectivo proposto mas acima de tudo pelo campeonato tranquilo que fizemos. Na taça de Portugal fomos eliminados na 3ª eliminatória pelo Mogadouro (1ª divisão). Na taça do Algarve fomos eliminados nas meias finais pelo Louletano. Conseguimos colocar 3 atletas na selecção do Algarve de sub-21.
São mais que motivos para ficarmos satisfeitos e depois à que realçar que fomos para muitos técnicos e comentadores do futsal nacional a grande surpresa pela positiva da nossa série. No inicio éramos para muitos um dos candidatos a descida de divisão.


O Futsal tem uma linguagem própria e muito específica, já não é a modalidade órfão dos jogadores que deixam o futebol 11. Mas ainda verificamos que existem muitas equipas a trabalhar em cima do joelho, vemos treinadores a desculparem-se do pouco tempo que têm para treinar, mas também não sabem tirar proveito desse mesmo tempo. A realidade actual do Futsal Algarvio mudou, mas será que mudou assim tanto? (O Tomás Viegas dizia há dias que o Futsal Algarvio – Distrital – tinha mudado, mas que a evolução não tinha sido assim tão elevada).
LC: É verdade que nos últimos anos muito se têm feito para melhorar a qualidade dos clubes, treinadores e jogadores. Na verdade a evolução não têm sido assim tão significativa como todos desejava-mos. Existem equipas com alguma qualidade colectiva fruto do trabalho do treinador e dos jogadores mas por outro lado existem equipas e treinadores que com os anos que andam na modalidade têm a obrigação de apresentar muito mais qualidade no jogo das suas equipas, não podem levar o tempo a lamentar-se por este ou por aquele motivo. No desporto, tempo é sinónimo de aproveitamento.


Conheces bem a realidade do Futsal Algarvio, o dos nossos atletas, em que aspectos vês que houve evolução nos nossos atletas?
LC: É verdade que surgem atletas vindos da formação mais evoluídos tacticamente com mais conhecimento do jogo, mas também é verdade que tecnicamente são muito mais limitados e isto no futsal é fundamental. Sabem interpertar o jogo mas depois a sua velocidade e qualidade de execução é limitada porque são condicionados tecnicamente. A tomada de decisão acertada faz a diferença quando se chega a um nível mais elevado.
Começo a ficar preocupado com o futuro do futsal Algarvio e da sua formação, não sei o que vai acontecer as nossas equipas daqui a 5 ou 6 anos quando esta geração de atletas que agora têm 26-27 anos deixarem o futsal. Costumo acompanhar os campeonatos da formação e vejo que o nível individual dos atletas é muito mais baixo do que aqui a 3 ou 4 anos atrás. E começo a perguntar, para onde caminhamos?

Concordas com a estrutura / organização dos nossos Campeonatos Distritais?
LC: Já fiz chegar junto da AFA a algum tempo a minha opinião sobre os campeonatos distritais a nível da formação e sénior.
Na formação o principal problema é o período competitivo, é muito pequeno, para além de outros que não vou referir por falta de tempo/espaço.
A nível sénior masculino não vejo grandes alternativas mas penso que no futuro e com o as dificuldades económicas que os clubes e o país apresentam penso que passa por uma só divisão distrital.
Voltando a formação penso que existem regras no próprio jogo que devem ser implementadas para melhorar a qualidade dos praticantes e do jogo. Uma delas é incluir a regra de a bola vinda do guarda-redes não poder passar a linha de meio campo sem antes tocar em alguém. Principalmente nos campeonatos de escolas e infantis. Entre outras…

Este último campeonato foi um dos mais equilibrados dos últimos anos, que acabou com a vitória do Sto. Estêvão, em tua opinião este equilíbrio foi nivelado, mas de qualidade ou por falta dela? Para muitos ganhou a equipa mais organizada e mais disciplinada tacticamente.
LC: O que aconteceu este ano ao Tomás aconteceu o ano passado connosco, a organização e a regularidade juntamente com a qualidade colectiva dos jogadores são meio caminho para sermos campeões do Algarve.
Nem o Tomas nem eu o ano passado tinha-mos os melhores planteis a nível individual, mas o colectivo fez a diferença e acabamos por ser campeões.
Não acompanhei muitos jogos da distrital este ano, mas os que vi e pelo que fui falando com alguns técnicos que disputavam a distrital ao longo da época disseram-me que existia algum equilíbrio mas que esse equilíbrio era nivelado por baixo. Dos poucos jogos que vi não gostei, houve equipas que investiram muito com muitas individualidades mas depois deixaram muito a desejar ao longo da época, tinham obrigação de apresentar muito mais qualidade no seu jogo.
Não podemos esquecer que “uma boa equipa não é só um conjunto de bons jogadores”.


Que conselhos podes dar aos treinadores Algarvios, de forma a que possam ser mais disciplinados / organizados na preparação dos seus treinos semanalmente?
LC: Não gosto muito de dar concelhos a treinadores, sabem sempre tudo.
Mas posso dizer que a dedicação e empenho são fundamentais para melhorar o nosso trabalho.
O treino é fundamental no sucesso das equipas, assim, temos de o preparar da melhor forma possível. Tem de ser pensado, planeado com base nos objectivos pré-definidos e acima de tudo executado com rigor e disciplina e não nos podemos esquecer de o analisar no final de cada sessão, é com base nessa análise final que começamos a preparar o próximo.
Rentabilizem todo o tempo de treino, não vão para o treino sem o devido planeamento, ponham em prática as vossas ideias de jogo e lutem por elas. A equipa é a imagem do treinador.


Voltando ao Inter-Vivos… A vossa equipa, foi com toda a certeza a grande surpresa do Campeonato Nacional da 3ª. Divisão, para a grande maioria vocês eram completamente desconhecidos. Na próxima época o factor surpresa não será um trunfo, mas a vossa experiência também aumentou. Podemos ver o Inter-Vivos com sonhos mais elevados, como por exemplo a subida de divisão?
LC: Uma coisa te garanto Luís, esta época se tivéssemos tido um pouco mais de experiência em certos momentos do jogo podia-mos ter ficado nos quatro primeiros lugares e refiro isto com muita certeza. É verdade que fomos surpresa só para quem não nos conhece. Hoje em dia sabes que a surpresa jã não é tão escura como a alguns anos atrás, basta ires a net e encontras jogos de quase todas equipas do nosso campeonato a partir dai podes analisar o adversário.
Nunca vamos pensar em subir de divisão, vamos sim lutar por ganhar todos os jogos como sempre fazemos.
Na próxima época queremos fazer melhor que esta.
Estamos numa zona limitada e neste cantinho do Algarve (de Martinlongo a Vrsa), não vejo jogadores com qualidade suficiente para subirmos a 2ª divisão e mantermo-nos por lá tranquilamente. Se calhar mais 3 ou 4 jogadores desta zona teriam capacidade de entrar na nossa equipa não vejo muito mais, e quando começamos a trabalhar com eles observamos grandes limitações e acima de tudo não têm hábitos de trabalho e dou-te o exemplo do Algiro na época passada que chegou em Dezembro vindo da 3ª divisão e nas 2 primeiras semanas de trabalho não aguentava o ritmo e a intensidade dos treinos, não conseguia jogar a 2 toques era uma loucura. Mas ainda assim foi importante para nós, conseguimos alterar-lhe alguns hábitos menos bons e foi decisivo em alguns jogos.


Costuma-se dizer que o primeiro ano nos Nacionais é o mais difícil, o vosso projecto está bem definido, que pretendem para o futuro desta equipa?
LC: A nossa localização geográfica não nos permite sonhar muito além, estamos muito limitados e condicionados longe de tudo e de todos, para podermos chegar muito mais longe necessitava-mos de ir buscar atletas fora do Algarve e isso para nós é impensável e quase impossível. Vamos sobrevivendo.

O plantel actual dá garantias de uma próxima época tranquila ou necessitas de alguns novos atletas?
LC: Necessitamos de alguns ajustes, não muitos mas provavelmente vão entrar 3 ou 4 novos atletas, um guarda-redes, um jogador com características mais defensivas e um outro mais ofensivo.

Que dimensão tem a vossa estrutura, técnicos, departamento médico, directores, atletas?
LC: A dimensão destas estruturas é definida consoante as nossas principais prioridades e necessidades, mas onde estamos com mais dificuldades é ao nível do departamento médico, por exemplo no nosso concelho não existe uma clínica com fisioterapeutas ou massagistas, o que faz com que os atletas se tenham de deslocar a Vrsa para os tratamentos. Em relação as outras estruturas não estamos mal, mas podíamos estar bem melhores.

Que apoios tem o Inter-Vivos, tanto a nível da Autarquia como de entidades particulares / empresas?
LC: Muito claramente Luís, a autarquia de Alcoutim até aqui têm sido fantástica no apoio ao futsal dos Inter-Vivos sem eles este projecto não tinha esta dimensão. Já a nível de entidades privadas e nos tempos que correm são cada vez mais difíceis ainda assim vamos conseguindo alguns bons apoios.

Quais as vossas maiores necessidades?
LC: A nossa principal necessidade não podemos fazer muito por ela que é a falta de pessoas no concelho, a interioridade afecta tudo e paga-se cara.
Mas tirando isto, é a falta de técnicos (treinadores, fisioterapeutas, massagistas).
Com mais técnicos o nosso grande desejo passaria por criar pelo menos mais dois escalões, iniciados e Juniores para a próxima época.


Para terminar, quais são os sonhos do Luis Conceição, no futuro, como treinador?
LC: Sou uma pessoa optimista e ambicioso por natureza a vida fez com que assim fosse. Trabalho e dedico-me com o objectivo de ser sempre melhor que ontem, só assim posso chegar aos meus objectivos e ter sucesso colectivo e pessoal. Nunca se sabe o amanha, mas desejo sempre mais e melhor.

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Agradeço ao Luis a sua disponibilidade
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Luis Barradas

2 comentários:

  1. Parabens Mister
    Uma vez mais uma grande entrevista com um discurso diferente do normal, está de parabens.
    O Algarve começa a ficar pequeno para si?

    Um grande ABRAÇO E TODA SORTE DO MUNDO
    Ricardo

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  2. Parabens Inter-Vivos
    Parabens amigo Luís

    Excelente entrevista, gostei muito
    Abraço a todos os inter-vivos
    João paulo

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